ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO DE CASO NUMA UNIVERSIDADE DE MOÇAMBIQUE
- Maria de Lourdes Oliveira Lopes
- 15 de out. de 2024
- 25 min de leitura
Atualizado: 18 de abr.
INCLUSIVE EDUCATION STRATEGY IN HIGHER EDUCATION: A CASE STUDY AT A UNIVERSITY IN MOZAMBIQUE
Informações Básicas
Revista Qualyacademics v.2, n.5
ISSN: 2965-9760
Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).
Recebido em: 14/10/2024
Aceito em: 14/10/2024
Revisado em: 14/10/2024
Processado em: 15/10/2024
Publicado em: 15/10/2024
Categoria: Estudo de Caso
Como citar esse material:
LOPES, Maria de Lourdes Oliveira; MADUREIRA, Cristiana Pizarro. Estratégia de educação inclusiva no ensino superior: um estudo de caso numa universidade de Moçambique. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.5, 2024; p. 167-193. ISSN 2965-9760 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v2n5.012
Autoras:
Maria de Lourdes Oliveira Lopes
Candidata a Doutora em Ciências da Educação, especialização em educação inclusiva e pedagogia diferenciada pela UNIPIAGET, Beira, Moçambique. Contato: lopesm@uam.adventist.org. https://orcid.org/0009-0005-5878-2396.
Cristiana Pizarro Madureira
Dra. Professora adjunta na ESECS, Instituto Politécnico de Leiria, Portugal; Doutora em Ciências da Educação, Mestre em Educação: Sociologia da Educação e Políticas Educativas e licenciada em Educação. https://orcid.org/0000-0002-2167-849X
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RESUMO
Este artigo expõe o Plano de Atividades Educativas (PAE), uma abordagem de inclusão académica voltada para estudantes com grandes desafios financeiros, implementada numa Universidade privada sem fins lucrativos em Moçambique. A metodologia adotada consistiu num estudo de caso, com recolha de informações qualitativas e quantitativas por meio de questionários e análise documental. O PAE tem-se mostrado eficiente na manutenção de estudantes em situação de vulnerabilidade financeira, permitindo que suportem as despesas com as suas mensalidades e concluam a sua formação académica sem dívidas, ao realizarem atividades em diversos setores dessa Universidade, além de adquirirem novas habilidades. A iniciativa é bem aceite tanto pelos estudantes quanto pelos responsáveis dos setores da universidade. No entanto, há margem para aprimoramentos, como a ampliação da variedade de cursos contemplados, a equidade de oportunidades entre homens e mulheres, a avaliação do desempenho dos participantes e o acompanhamento contínuo do programa. Assim, a estratégia inclusiva adotada por essa Universidade, destaca-se como uma boa prática para assegurar a permanência de estudantes com dificuldades financeiras no Ensino Superior.
Palavras-chave: Educação inclusiva; Dificuldades financeiras; Ensino Superior; Plano de Atividades Educativas.
ABSTRACT
This article presents the Educational Activities Plan (PAE), an approach to academic inclusion aimed at students with major financial challenges, implemented at a private non-profit university in Mozambique. The methodology adopted consisted of a case study, with qualitative and quantitative information collected through questionnaires and document analysis. The PAE has proved to be effective in keeping students in a situation of financial vulnerability afloat, allowing them to pay their tuition fees and graduate debt-free by carrying out activities in various sectors of the university, as well as acquiring new skills. The initiative is well received by both the students and those in charge of the university's departments. However, there is room for improvement, such as broadening the range of courses covered, equal opportunities for men and women, evaluating participants' performance and continuously monitoring the program. Thus, the inclusive strategy adopted by this university stands out as a promising model for ensuring that students in financial difficulty remain in higher education.
Keywords: Inclusive education; Financial difficulties; Higher education; Educational activity plan.
1. INTRODUÇÃO
A educação inclusiva tem sido um dos grandes desafios e compromissos das instituições de ensino superior em diversas partes do mundo. Em Moçambique, a implementação de políticas e práticas voltadas para a inclusão de estudantes com deficiência ou necessidades educacionais especiais ainda enfrenta obstáculos significativos, desde a infraestrutura inadequada até a falta de capacitação docente e materiais adaptados. No entanto, algumas universidades têm adotado estratégias inovadoras para promover um ambiente de aprendizagem mais acessível e equitativo.
Este artigo tem como objetivo apresentar a implementação de uma estratégia de educação inclusiva numa universidade moçambicana, identificando a iniciativa adotada, os desafios enfrentados e a contribuição da estratégia na permanência dos estudantes com severas dificuldades financeiras, no Ensino Superior.
A partir de um estudo de caso, busca-se compreender como a instituição tem promovido a estratégia, além de analisar a percepção dos estudantes beneficiários, bem como dos chefes dos setores onde esses estudantes atuaram, expondo a eficácia dessas ações.
A relevância deste estudo reside na necessidade de ampliar o debate sobre a inclusão no ensino superior moçambicano e de fornecer subsídios para o aprimoramento de políticas institucionais. A investigação pretende contribuir para a construção de um ensino mais democrático e inclusivo, alinhado às realidades locais.
Nesse contexto, torna-se fundamental compreender a inclusão não apenas como o acesso físico às salas de aula, mas como um processo contínuo de acolhimento, permanência e valorização da diversidade estudantil. Isso implica repensar currículos, metodologias de ensino e práticas avaliativas que considerem as múltiplas formas de aprender e as condições socioeconômicas dos discentes.
A educação inclusiva, sobretudo em países com recursos limitados, demanda criatividade e sensibilidade das instituições no desenvolvimento de ações que integrem os estudantes de forma digna e participativa. Em Moçambique, a precariedade de recursos não tem impedido que algumas universidades explorem caminhos alternativos para garantir a equidade no ensino superior, especialmente no que tange ao apoio financeiro e psicossocial dos estudantes em situação de vulnerabilidade.
Além disso, é preciso destacar o papel das políticas públicas e da cooperação internacional na construção de uma agenda de inclusão que respeite as especificidades do contexto moçambicano. A articulação entre gestores, docentes, estudantes e parceiros externos é essencial para garantir a sustentabilidade das iniciativas e o fortalecimento institucional em torno da inclusão.
Portanto, este estudo se insere em um esforço mais amplo de compreensão das estratégias inclusivas viáveis em realidades desafiadoras, buscando não apenas evidenciar os resultados obtidos, mas também inspirar outras instituições a adotarem medidas semelhantes. A partilha de experiências e a análise crítica das práticas são caminhos importantes para a transformação do ensino superior em um espaço verdadeiramente acessível a todos.
1.2. A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AS POLÍTICAS E DESAFIOS DE INCLUSÃO DE PESSOAS COM DIFICULDADES FINANCEIRAS NO ENSINO SUPERIOR
A educação inclusiva, que abrange também o Ensino Superior, se configura como um imperativo social e moral, buscando garantir o acesso e a participação plena de todos os estudantes, independentemente de suas características individuais. Essa modalidade de ensino vai além da mera integração de estudantes com deficiência, abrangendo a criação de um ambiente universitário acolhedor e propício à aprendizagem de todos, valorizando as diferenças e promovendo a equidade (Ainscow, 2009).
Com a expansão do acesso à educação superior, surgem novos desafios e um desses é como garantir a inclusão de pessoas de baixos recursos económicos.
A educação inclusiva é um processo contínuo de tentativa de superar barreiras que impedem a aprendizagem e a participação de todos os estudantes. A inclusão no Ensino Superior visa garantir que todos os estudantes, independentemente de suas circunstâncias pessoais, sociais ou económicas, tenham acesso igualitário e equitativo a oportunidades educacionais (UNESCO, 2020).
Diversas políticas têm sido implementadas para promover a inclusão de pessoas com dificuldades financeiras no Ensino Superior. Em muitos países, programas de bolsas de estudo, ações afirmativas e sistemas de cotas têm sido utilizados para aumentar a participação de estudantes com baixos rendimentos. Estudos recentes mostram que essas políticas têm um impacto positivo na diversidade do corpo discente e na redução das disparidades educacionais (Santos & Silva, 2019; Smith & Borg, 2021).
Desse modo, pessoas com dificuldades financeiras possuem muitos desafios para o acesso e permanência no Ensino Superior, como:
a) barreiras financeiras. Um dos principais obstáculos para a inclusão de pessoas de baixos rendimentos no Ensino Superior são as barreiras financeiras. O custo das mensalidades, materiais didáticos, transporte e alimentação pode ser proibitivo para muitas famílias. Investigações indicam que a assistência financeira é crucial para a permanência e sucesso desses estudantes (Pinto & Araújo, 2020; Thomas, 2021).
b) suporte académico e social. Além das barreiras financeiras, estudantes com baixos rendimentos frequentemente enfrentam desafios académicos e sociais. A falta de preparação académica e a ausência de redes de suporte social podem dificultar a adaptação e o desempenho desses estudantes no ambiente universitário (Gonzalez et al., 2020; Rivera & Lopez, 2021).
Neste sentido, têm sido implementadas diversas estratégias para permitir que pessoas com dificuldades financeiras possam ser incluídas no Ensino Superior:
a) programas de apoio financeiro. Programas de apoio financeiro, como bolsas de estudo e auxílios, são fundamentais para apoiar estudantes com baixos rendimentos. Tais programas podem cobrir não apenas as mensalidades, mas também custos adicionais, como material didático, transporte e moradia (Johnson & Smith, 2020; Martins & Pereira, 2022).
b) tutoria e aconselhamento. Serviços de tutoria e aconselhamento académico e psicológico são essenciais para ajudar os estudantes a superarem desafios académicos e pessoais. Esses serviços podem proporcionar orientação académica, suporte emocional e ajudar na construção de habilidades de estudo e gestão do tempo (Baker & Brown, 2020; Silva et al., 2021).
1.3. IMPACTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA PESSOAS COM DIFICULDADES FINANCEIRAS
Portanto, a educação inclusiva no Ensino Superior para pessoas com dificuldades financeiras tem resultado diversos benefícios como:
a) benefícios para os estudantes. A inclusão de estudantes com baixos rendimentos no Ensino Superior tem inúmeros benefícios, tanto individuais quanto sociais. Estudos mostram que a obtenção de um diploma de Ensino Superior está associada a melhores oportunidades de emprego, salários mais altos e maior mobilidade social (Garcia & Torres, 2019; Nguyen et al., 2021).
b) benefícios para a sociedade. A educação inclusiva também traz benefícios para a sociedade em geral. Ela contribui para a redução das desigualdades sociais, promove a diversidade e a inclusão social, e pode levar a uma força de trabalho mais qualificada e diversificada (Lee & Kim, 2020; Oliveira & Silva, 2022).
1.4. INVESTIGAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ENSINO SUPERIOR PARA PESSOAS COM SEVERAS DIFICULDADES FINANCEIRAS
Estudos recentes têm apresentado a questão da educação inclusiva no Ensino Superior para pessoas com severas dificuldades financeiras. Entre elas, podemos mencionar:
a) Education and poverty: Reflections on the path of inclusion of the poor student in higher education (2019), de Clarice Ferreira e Marilda Gonçalves Dias Facci. As autoras sublinham que as políticas educacionais atuais com foco no acesso ao Ensino Superior para estudantes pobres não garantem sua persistência e conclusão e a transformação social pode ser influenciada por divisões de classe no ensino e na aprendizagem (Ferreira & Facci, 2019).
b) Policies for achieving inclusion in higher education, de J. Salmi e A. d’Addio (2020). Neste trabalho é abordado que políticas de promoção da equidade no Ensino Superior, incluindo auxílio financeiro e intervenções não monetárias, podem melhorar significativamente o acesso e o sucesso de grupos sub-representados (Salmi & d’Addio, 2020).
c) Low-income students, human development and higher education in South Africa: Opportunities, obstacles and outcomes (2022), de Melanie Walkre, M. Mclean, M. Mathebula e Patience Mukwambo. Este livro explora os resultados de aprendizagem para jovens rurais e urbanos de baixos rendimentos em cinco universidades sul-africanas. Ele mostra que estudantes com baixos rendimentos na África do Sul precisam de recursos suficientes, benefícios abundantes e multidimensionais, bem como políticas para lidar com as desigualdades do mercado de trabalho e oportunidades de estudo adicionais (Walker et al., 2022).
d) Rethinking student poverty: perspectives from a higher education institution in South Africa, de Anesu Ruswa e O. Gore (2021). Este estudo apresenta que a pobreza é um dos fatores que contribuem para menores índices de realização e conclusão entre estudantes negros em instituições de Ensino Superior (IES) sul-africanas. A abordagem para lidar com a pobreza estudantil em IES é predominantemente financeira por meio do financiamento de grupos desfavorecidos. Assim, a pobreza estudantil no Ensino Superior é complexa e multidimensional, afetando necessidades básicas, recursos de aprendizagem, condições de vida, participação e bem-estar psicológico (Ruswa & Gore, 2021). Contudo, convém mencionar que nenhuma das investigações mencionadas abordou a educação inclusiva para pessoas pobres na Universidade que implantou o PAE, pois esse não era o seu objetivo.
2. CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO E DOS PARTICIPANTES
O artigo apresenta a estratégia educacional inclusiva utilizada com estudantes que possuem severas dificuldades financeiras numa Universidade privada sem fins lucrativos de Moçambique, que por questões éticas e confidenciais, será mencionada neste artigo como: a Universidade que implantou o PAE.
2.1. CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA INVESTIGAÇÃO
Para a realização desta investigação, responderam ao questionário 136 pessoas, sendo 76 ex-estudantes, 43 estudantes atuais e 17 chefes de setor. Os estudantes mencionados são os que participam ou participaram do PAE e os chefes de setor são os encarregados dos setores onde esses estudantes realizaram ou realizam atividades educativas.
Por questões éticas e para assegurar que ficassem anónimos, os participantes foram catalogados com as siglas AT (beneficiários atuais), EX (ex-beneficiários) e CH (chefes de setor).
Os participantes foram convidados por via telefónica, WhatsApp, e-mail e alguns pessoalmente. O questionário foi disponibilizado eletronicamente através do Microsoft Forms, sendo que podia ser respondido via computador ou telemóvel com acesso à internet. Os questionários foram respondidos entre os meses de outubro de 2023 a janeiro de 2024. A duração das respostas foi em média de 10 minutos.
2.2. SÍNTESE SOBRE A POLÍTICA DE ATIVIDADES EDUCATIVAS DA UNIVERSIDADE QUE IMPLANTOU O PAE
A política de atividades educativas na Universidade que implantou o PAE tem como fundamento proporcionar a estudantes com severas dificuldades financeiras, que possam continuar estudando nessa Universidade, dando oportunidade para que desempenhem atividades educativas em diversos setores, bem como o desenvolvimento de competências.
Neste sentido, o primeiro passo é que o estudante preencha um formulário disponível na direção de assuntos estudantis, solicitando a participação no plano. No formulário ele também apresenta a sua situação, bem como fundamenta o mesmo com documentos que comprovam a sua realidade.
Como existe uma limitação de vagas, estabelecido pelo setor financeiro da instituição, o estudante aguarda a disponibilidade de vaga. Havendo a disponibilidade de vaga, os nomes são levados para o comitê financeiro da Universidade, que decide quem terá a oportunidade naquela vaga.
Portanto, desde 2016 até junho de 2024, essa Universidade já beneficiou 153 estudantes com o PAE, sendo que 87 deles se formaram, adquirindo não somente a formação específica de sua licenciatura, mas também as várias competências e habilidades que conseguiram nos diferentes setores em que realizaram as suas atividades educativas.
Logo, esta síntese sobre a política e o número de beneficiados pelo PAE permite um melhor enquadramento dos dados recolhidos a partir dos questionários respondidos pelos participantes do plano, tanto por parte dos ex-estudantes e estudantes beneficiados, bem como pelos chefes de setor onde esses estudantes participaram.
3. QUADRO METODOLÓGICO
Método é a maneira, é a forma que o cientista escolhe para ampliar o conhecimento sobre determinado objeto, fato ou fenómeno. É uma série de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para atingir determinado conhecimento (Sampaio, 2022).
Assim, nesta seção será descrito o percurso metodológico seguido para desenvolver esta investigação. A primeira parte apresentará o problema da investigação, depois descreverá o método de recolha dos dados. Na sequência exporá a análise das informações e finalizará com os cuidados éticos da investigação.
3.1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO
A Universidade que implantou o PAE é uma instituição privada de Ensino Superior sem fins lucrativos, localizada em Moçambique, e tem ajustado suas políticas e estratégias para atender à realidade local, manter-se de forma equilibrada e sustentável, bem como garantir o máximo possível a inclusão de estudantes com dificuldades financeiras, de acordo com a sua realidade.
Desde 2016, ao perceber que muitos jovens desejavam continuar no Ensino Superior, mas estavam desistindo por falta de condições económicas de se manter na universidade, essa Universidade implantou uma política de permanência através de uma estratégia educacional inclusiva para estudantes com severas dificuldades financeiras.
É baseado nessa problemática que surgem as seguintes questões:
a) Em que consistiu a estratégia educacional inclusiva da Universidade que implantou o PAE, para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras, desde 2016?
b) Qual foi o resultado numérico da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016?
c) Qual é a percepção que os estudantes beneficiados e os chefes de setor possuem da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016?
Esta investigação apresenta os seguintes objetivos:
Objetivo geral: descrever a estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras da Universidade que implantou o PAE, desde 2016.
Objetivos específicos:
a) relatar o resultado numérico da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016;
b) apresentar a percepção que os estudantes beneficiados e os chefes de setor possuem da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016.
4. QUESTÕES E OBJETIVOS
Tendo esse contexto em vista, no quadro a seguir apresentam-se as questões e os objetivos que procuram responder a essas questões da investigação.
Quadro 1 – Questões e objetivos da investigação
Questão principal | Questões norteadoras | Objetivos específicos | Objetivo geral |
Em que consistiu a estratégia educacional inclusiva da Universidade que implantou o PAE, para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras desde 2016?
|
Qual foi o resultado numérico da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016? | Descrever a estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras da Universidade que implantou o PAE, desde 2016. | |
Qual é a percepção que os estudantes beneficiados e os chefes de setor possuem da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras, dessa Universidade, desde 2016? |
Apresentar a percepção que os estudantes beneficiados e os chefes de setor possuem da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016.
|
(Fonte: elaborado pelas autoras, 2024)
4.1. PARADIGMA E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO
Esta investigação enquadra-se no paradigma fenomenológico-interpretativo, pois procura compreender as motivações, investigar os sentidos, os significados e os ocorridos, as atitudes e opiniões dos participantes dando-lhes sentido (Buriro et al., 2021).
Dessa maneira, esta investigação estuda um fenómeno ocorrido numa organização educacional, a Universidade que implantou o PAE. Será um estudo de caso porque produzirá conhecimento a respeito de um fenómeno real (Priya, 2020).
Neste sentido, é uma investigação descritiva porque relata e descreve a informação obtida. As fontes de informação bibliográfica e documental utilizadas foram tanto primárias quanto secundárias, mostrando o contexto e a perspectiva da análise correspondente. O procedimento de observação foi através de análise documental. A recolha dos dados consistiu na aplicação de questionários. É uma investigação retrospetiva porque exporá factos ocorridos no passado. Tudo isso conforme o paradigma fenomenológico-interpretativo.
A população estudada são os estudantes da Universidade que implantou o PAE, com dificuldades financeiras, que foram beneficiados pela estratégia educacional inclusiva desde 2016.
Nesta linha, percebe-se que, estrategicamente, este estudo se enquadra no âmbito de um estudo de caso instrumental, pois procura compreender, de forma aprofundada, uma instituição privada de Ensino Superior, moçambicana, em torno da problemática das políticas de inclusão no Ensino Superior de estudantes com dificuldades financeiras.
4.2. CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO
É importante mencionar que em Moçambique e nos países vizinhos existem muitos jovens que sonham ter um curso superior, porém, as suas dificuldades financeiras não proporcionam condições favoráveis de frequentarem uma universidade.
A instituição selecionada para a realização deste estudo de caso obedeceu a quatro fatores:
a) primeiro, o facto de uma das investigadoras trabalhar na instituição desde 2016, a experiência dela com educação inclusiva para pessoas com dificuldades financeiras, bem como ela trabalhar numa Universidade que possibilita a estudantes com dificuldades financeiras a continuarem seus estudos ao participar de um PAE.
b) segundo, relativo à estratégia ter sido implantada e continuada no mesmo período;
c) terceiro, a Universidade apoia de forma oficial a política de inclusão de estudantes com dificuldades financeiras através do Plano de Atividades Educativas (PAE);
d) quarto, a existência de um setor que supervisiona a execução do PAE de maneira contínua, através da Direção de Assuntos Estudantis.
Então, destaca-se que o PAE, constitui a estratégia educacional inclusiva que a Universidade implantou de modo a fornecer condições para muitos estudantes conseguirem realizar a sua formação académica e partirem para o mercado de trabalho sem dívidas, proporcionando-lhes, a oportunidade de se realizarem pessoal e profissionalmente.
Nesta investigação, define-se como “atividades educativas”, a realização de tarefas práticas que são oferecidas em diversas áreas nos vários departamentos da Universidade que implantou o PAE, como a biblioteca, a secretaria, a contabilidade, a reitoria, etc. Desta forma, os estudantes com dificuldades financeiras participam como apoio, realizando as tarefas diárias designadas pelas equipas de coordenação da Universidade e supervisionados pelos chefes de cada setor.
Além disso, eles desenvolvem habilidades e competências de uma maneira eficiente, adicionando capacidades para exercerem funções diversificadas além das que adquirem no seu curso.
No final de cada mês, são calculadas e registadas as horas que o estudante dedicou a essas atividades. Cada hora de atividade é lançada como crédito no setor financeiro reduzindo o valor da propina. Se o estudante exercer normalmente as suas atividades educativas diárias, isso possibilitará a quitação do valor total da mensalidade.
Entretanto, devido à realidade socioeconómica de muitos estudantes, que não possuem recursos financeiros para manterem seus estudos, a filosofia institucional da Universidade que implantou o PAE proporciona uma oportunidade para que esses estudantes possam, através de atividades educativas no próprio ambiente de estudos, pagar as propinas de forma total ou parcial e se graduarem sem dívidas.
Tendo isso em vista, essa Universidade também tem proporcionado essa oportunidade para que muitos estudantes, cuja situação socioeconómica os manteria fora da formação universitária, possam desenvolver atividades educativas, devido à sua filosofia inclusiva para pessoas com necessidades financeiras, de acordo com a sua capacidade.
4.3. RECOLHA DE DADOS
As principais técnicas usadas nesta investigação foram: a observação, os questionários e a análise documental. Escolheu-se o inquérito por questionário como a técnica para recolha de dados tendo em conta os objetivos desta investigação (Bihu, 2021; Pan et al., 2021). A análise documental proporcionou a base para o enquadramento teórico e definir a linha que norteou o desenvolvimento da investigação (Lima Júnior et al., 2021).
Quadro 2 - Etapas, recolha de dados e análise de dados baseados nos objetivos
Objetivo geral: Descrever a estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes da UAM com dificuldades financeiras, desde 2016. | |||
Objetivos específicos | Recolha de dados | Análise de dados | |
Relatar o resultado numérico da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016
| Inquérito por Questionário: -Ex-beneficiários -Beneficiários atuais -Chefes de setor Etapa 1 | Análise de documentos Etapa 2 | Análise de conteúdo Etapa 3 |
Apresentar a percepção que os estudantes beneficiados e os chefes de setor possuem da estratégia educacional inclusiva para a permanência de estudantes com dificuldades financeiras dessa Universidade, desde 2016.
|
(Fonte: elaborado pelas autoras, 2024)
4.4. ANÁLISE DE DADOS: ANÁLISE DE CONTEÚDO
Considerando as técnicas de questionário e análise documental utilizadas neste trabalho, optou-se pela análise de conteúdo, considerada como adequada à natureza qualitativa e aos objetivos desta investigação.
Para realizar a análise de conteúdo das respostas fornecidas pelos estudantes universitários, seguiu-se a metodologia de Bardin (2016), que envolve três etapas principais: pré-análise, exploração do material, e tratamento dos resultados e interpretação. Essas etapas foram aplicadas às respostas fornecidas (Bardin, 2016, p. 20).
Desse modo, depois de recolher os dados por meio de questionários, passou-se à transcrição deles para compor o conjunto documental, e assim poder realizar a análise das informações.
As etapas de análise de conteúdo acima descritas foram aplicadas às respostas recolhidas. Inicialmente, a recolha de dados foi realizada por meio de questionários. Posteriormente, seguiu-se a análise documental e a análise de conteúdo propriamente dita:
pré-análise. A pré-análise constituiu a fase inicial de organização do material. Realizou-se uma leitura exaustiva das respostas dos estudantes, a fim de identificar temas recorrentes e significativos.
Essas etapas foram aplicadas às respostas recolhidas. Inicialmente, a recolha de dados foi realizada por meio de questionários. Posteriormente, seguiu-se a análise documental e a análise de conteúdo propriamente dita: pré-análise. A pré-análise constituiu a fase inicial de organização do material. Realizou-se uma leitura exaustiva das respostas dos estudantes, a fim de identificar temas recorrentes e significativos. exploração do material. A exploração do material envolveu a codificação do conteúdo, identificando através das unidades de registo, as categorias e subcategorias temáticas. As unidades de registo foram frases ou palavras que expressavam os pontos do PAE. A codificação das respostas permitiu a classificação das declarações dos estudantes dentro dessas categorias e subcategorias temáticas, facilitando a análise subsequente.
tratamento dos resultados e interpretação. Na fase final, tratou-se dos resultados e realizou-se a interpretação dos dados codificados, visando extrair conclusões significativas. Essa abordagem detalhada e metódica permitiu uma compreensão abrangente das percepções dos estudantes sobre os pontos do plano de atividades educativas, oferecendo uma base sólida para futuras investigações e melhorias no programa.
4.5. QUESTÕES ÉTICAS EM INVESTIGAÇÃO
Foi solicitado à Universidade que implantou o PAE a autorização para a investigação, que autorizou através do seu Conselho Administrativo, em 20 de novembro de 2020.
Contudo, quando se produz conhecimento científico onde existe a participação de pessoas, precisa de se ter sempre em mente as questões éticas envolvidas no processo, a fim de garantir que as informações fornecidas pelos participantes sejam sigilosas, conservem a integridade dos mesmos e levem a resultados os mais fidedignos e estritos.
Tendo isso em vista, principalmente no estudo de caso, é mandatório que a confidencialidade e o anonimato estejam garantidos pelo investigaçãodor em todo o desenvolvimento da investigação, bem como na redação e apresentação dela.
Além disso, esta investigação pautou-se também por “alcançar uma conduta ética na investigação, deve-se considerar o consentimento informado dos voluntários, a manutenção da confidencialidade e a proteção dos participantes do estudo” (Ajemba & Arene, 2022, p. 46).
Assim, cada participante foi previamente informado sobre os objetivos, os métodos e os resultados esperados da investigação, bem como a garantia de anonimato e confidencialidade, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), desde a recolha dos dados até a publicação e posterior divulgação da investigação.
Contudo, convém destacar que na investigação em questão, a Carta Ética da Sociedade Portuguesa das Ciências da Educação (SPCE) esteve permeando todo o processo investigativo, uma vez que tem como princípio fundamental o “respeito pela dignidade de cada pessoa” (Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, 2014, p. 11).
Adicionalmente, durante a investigação, foram enfatizados os princípios que promovem o bem-estar, a colaboração e a responsabilidade. Isso ocorreu devido à atenção especial às “atitudes de sensibilidade relacional e profissionalismo” (Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, 2014, p. 14), ao longo do processo, considerando o contexto universitário.
Tivemos ainda a preocupação em triangular os dados no sentido de aumentar a credibilidade e a confiabilidade ao combinar diversas técnicas de recolha de dados, como questionários e análise documental. A viabilidade e a fiabilidade dos dados obtidos durante a investigação são garantidas pela triangulação dos dados (Vivek et al., 2023).
Portanto, o quadro a seguir resume a metodologia usada na investigação.
Quadro 3 – Classificação da metodologia usada nesta investigação
Paradigma | Objetivos da investigação | Natureza da investigação | Objeto de estudo | Técnica de recolha de dados | Técnica de análise de dados |
Fenomenológico-Interpretativo |
Exploratório-descritiva |
Mista |
Estudo de caso |
Questionário, investigação documental, investigação bibliográfica
|
Análise de conteúdo |
(Fonte: elaborado pelas autoras, 2024)
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1. RESULTADOS
A investigação revelou que a Universidade que implantou o PAE adota este programa como uma estratégia de inclusão voltada para estudantes em situação de vulnerabilidade financeira. Os participantes do programa demonstram satisfação com a experiência, destacando sua importância para a permanência na instituição.
Todos os 43 estudantes atualmente beneficiados relataram ter uma experiência positiva no PAE. Desses, 31 (72%) avaliaram positivamente sem ressalvas, enquanto 6 (14%) enfatizaram o aprendizado de uma profissão como um diferencial. Além disso, 4 participantes (9%) mencionaram outros aspectos positivos, como a oportunidade de adquirir experiência prática, interagir com diferentes áreas do conhecimento e ampliar seu círculo social.
Entre os 76 ex-beneficiários, 74 (98%) também consideraram sua participação no programa como positiva. As principais razões apontadas foram a tranquilidade no pagamento das mensalidades, mencionada por 44 pessoas (57%), e a oportunidade de aprender uma profissão, destacada por 24 (32%). Apenas 2 ex-participantes (2%) relataram que a experiência não foi satisfatória para eles.
Os beneficiários atuais enfrentam desafios como a aceitação do tipo e local das atividades designadas, mencionada por 24 estudantes (55%); a adequação dos horários das atividades com a rotina académica, apontada por 13 (30%); dificuldades no relacionamento com os chefes de setor, relatadas por 2 (4%); e outras dificuldades diversas, citadas por 4 (9%).
Já entre os ex-beneficiários, os principais desafios incluíram a aceitação do tipo e local das atividades disponíveis, mencionada por 30 (39%); a conciliação dos horários das atividades com os estudos, relatada por 26 (34%); dificuldades no relacionamento com os chefes de setor, apontadas por 7 (9%); e desafios pessoais ou sociais, identificados por 13 (17%).
Os 17 chefes de setor que responderam à investigação avaliaram o PAE de forma positiva. Para eles, o programa traz benefícios tanto para os estudantes quanto para a universidade, ao proporcionar suporte aos estudantes, ajudá-los a superar dificuldades financeiras, promover um senso de reciprocidade entre a instituição e os estudantes, além de contribuir para o desenvolvimento de competências e para a formação de cidadãos responsáveis e conscientes.
No entanto, os chefes de setor destacaram a necessidade de melhorias no programa. Entre os principais pontos apontados estão a falta de recursos materiais, a necessidade de critérios mais claros para a seleção dos participantes e a demanda por maior capacitação tanto para os estudantes quanto para os próprios chefes de setor.
5.2. DISCUSSÃO
Os resultados do estudo demonstram o compromisso da Universidade que implantou o PAE com a inclusão de estudantes em situação de vulnerabilidade financeira. A estratégia adotada pela instituição tem se mostrado eficaz para assegurar tanto o acesso quanto a permanência desses estudantes. Além disso, a investigação oferece uma visão aprofundada sobre as experiências e percepções dos estudantes com dificuldades financeiras no Ensino Superior.
O estudo sobre a inclusão de estudantes em situação de vulnerabilidade financeira nessa Universidade destaca a relevância de políticas públicas e iniciativas institucionais para assegurar o acesso e a permanência desses estudantes no Ensino Superior. Os resultados desta investigação podem servir de base para o desenvolvimento de novas políticas educativas e programas de inclusão noutras instituições académicas.
Além disso, os resultados indicam que, desde o início do programa em 2016 até junho de 2024, diversos estudantes foram beneficiados e conseguiram concluir a sua formação académica por meio do PAE, conforme demonstrado na tabela a seguir.
Tabela 1 – Beneficiários e graduados pelo PAE desde 2016 a Junho de 2024
Beneficiários | 153 |
Graduados | 87 |
(Fonte: elaboração pelas autoras, 2024)
Além disso, essa Universidade incorporou sete ex-beneficiários ao seu quadro de funcionários, demonstrando que a estratégia educacional inclusiva não apenas auxilia na permanência de estudantes com dificuldades financeiras, mas também possibilita a conclusão do curso sem dívidas. Aqueles que mais se destacam durante o programa têm a oportunidade de serem contratados como funcionários efetivos da instituição após a sua formação académica.
Por meio dessa iniciativa, os beneficiários puderam arcar com suas mensalidades ao participarem de atividades académicas e administrativas em setores como biblioteca, registo académico, contabilidade, Farma (fazenda) da Universidade, Reitoria, monitoria de campus, entre outros. Como resultado, muitos estudantes conseguiram se formar sem acumular dívidas.
O estudo também concluiu que essa estratégia inclusiva é bem recebida tanto pelos estudantes participantes quanto pelos gestores dos setores envolvidos. Os estudantes valorizam a oportunidade de concluir seus estudos sem pendências financeiras, além de adquirirem experiências e habilidades profissionais. Já os chefes de setor reconhecem os benefícios da iniciativa para a universidade, destacando que ela é uma forma eficaz de apoiar os estudantes e promover a diversidade institucional.
O modelo adotado por essa Universidade pode ser replicado por outras universidades, contribuindo para garantir o acesso e a permanência de estudantes no Ensino Superior. Além disso, o programa permite que as instituições observem e integrem ao seu corpo de funcionários aqueles estudantes que mais se destacam ao longo da formação.
Entretanto, identificou-se a necessidade de melhorias contínuas no programa. Com base nos resultados desta investigação, algumas recomendações incluem: ampliar a divulgação do PAE, utilizando a internet e redes sociais internas; aumentar a diversidade de cursos contemplados; garantir a equidade de oportunidades entre homens e mulheres; implementar avaliações regulares do desempenho dos participantes e dos chefes de setor; e incorporar elementos inovadores para aprimorar a iniciativa.
O PAE deve ser um programa dinâmico, adaptável às necessidades em constante mudança dos seus beneficiários. Para isso, é essencial um compromisso contínuo com a inovação e a flexibilidade.
O êxito do programa também depende da colaboração de todas as partes envolvidas, incluindo estudantes, professores, funcionários, gestores e parceiros externos. Para garantir sua eficácia e alcançar os objetivos desejados, é fundamental o engajamento ativo de todos. Ao implementar as recomendações desta investigação, o PAE tem potencial para se tornar ainda mais eficiente e inclusivo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
A metodologia adotada neste estudo, fundamentada em um paradigma fenomenológico-interpretativo e conduzida por meio de um estudo de caso, mostrou-se adequada para explorar a complexidade do processo de inclusão no Ensino Superior. Esse enfoque permitiu uma compreensão mais profunda das experiências, percepções e desafios enfrentados tanto pelos estudantes quanto pela instituição.
Os dados recolhados indicam que o PAE dessa Universidade recebeu avaliações positivas da maioria dos participantes, incluindo beneficiários atuais, ex-beneficiários e chefes de setor. O programa tem se mostrado eficaz na inclusão de estudantes em situação de vulnerabilidade financeira, contribuindo para sua permanência na universidade, reduzindo a evasão académica e possibilitando a conclusão do Ensino Superior sem dívidas.
No entanto, há aspectos que necessitam de aperfeiçoamento. Entre as recomendações emergentes deste estudo, destacam-se a realização de reuniões periódicas entre os chefes de setor, maior orientação sobre o programa, aprimoramento do processo seletivo e promoção da equidade de gênero.
Os resultados também ressaltam a importância de uma comunicação eficaz e transparente entre todos os envolvidos no programa, bem como de estratégias de divulgação que garantam um acesso equitativo aos estudantes elegíveis.
Nesse sentido, a inclusão educacional é um objetivo que exige compromisso contínuo e colaboração entre todos os agentes envolvidos. Ao investir no aprimoramento do PAE e na adoção de práticas inclusivas, essa Universidade reafirma seu compromisso com a equidade, a inclusão e a justiça social.
Dessa forma, as conclusões desta investigação sugerem que o sucesso de iniciativas de inclusão depende da implementação de políticas bem definidas, de uma comunicação eficiente e de avaliações constantes para garantir que as necessidades de todos os estudantes sejam atendidas de maneira justa e igualitária.
Recomenda-se, portanto, que a Universidade que implantou o PAE continue a fortalecer suas políticas e práticas voltadas à inclusão de estudantes em situação financeira desfavorável, garantindo que todos tenham oportunidades iguais de alcançar seu potencial académico e pessoal. A colaboração entre diferentes setores e o monitoramento contínuo são fundamentais para assegurar que os objetivos de inclusão sejam plenamente atingidos, promovendo um ambiente educacional verdadeiramente acessível a todos.
Diante disso, esta investigação sugere a realização de novos estudos sobre estratégias educacionais inclusivas para estudantes com severas dificuldades financeiras em universidades públicas e privadas de Moçambique e do continente africano.
Por fim, a investigação realizada no âmbito do PAE dessa Universidade evidencia a importância de programas específicos voltados ao apoio de estudantes com dificuldades financeiras. Ao considerar essas recomendações, a Universidade que implantou o PAE pode garantir que o Plano de Atividades Educativas continue sendo uma estratégia bem-sucedida nos próximos anos.
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Como citar esse artigo:
LOPES, Maria de Lourdes Oliveira; MADUREIRA, Cristiana Pizarro. Estratégia de educação inclusiva no ensino superior: um estudo de caso numa universidade de Moçambique. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.5, 2024; p. 167-193. ISSN 2965-9760 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v2n5.012
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