A CRITICAL STUDY ON DYSGRAPHIA IN THE EARLY GRADES RELATED TO DIFFICULTIES IN WRITING
Como citar esse artigo:
VIANA, Wanessa Costa; SANTANA, Alfredo Henrique Castro; ROCHA Jesuslene Gomes. Um estudo crítico sobre a disgrafia nas séries iniciais relacionado as dificuldades na escrita. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 502-517. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.029
Autores:
Wanessa Costa Viana
Licenciatura Plena em Língua Portuguesa. Universidade Estadual Vale do Acaraú. Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Análise Literária. Contato: wanessavianaredencao@hotmail.com
Alfredo Henrique Castro Santana
Graduado em Artes visuais, pelo Centro Universitário FAVENI – UNIFAVENI. Pós-graduação em Ensino da Arte pela Instituição FACULESTE. Contato: alfredovascaino100@gmail.com.
Jesuslene Gomes Rocha
Graduação em pedagogia com Habilitação para magistério na Educação Infantil e nas séries Iniciais do Ensino Fundamental- UEPA. Especialização: Gestão, Orientação e Supervisão Escolar. Contato: jesuslenerocha@hotmail.com
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RESUMO
Este estudo objetiva analisar a disgrafia, um transtorno de aprendizagem que afeta significativamente a escrita de crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A relevância do tema reside na observação de que a disgrafia é uma das principais dificuldades enfrentadas no ambiente educacional, e ainda é frequentemente mal diagnosticada e confundida com outros problemas de aprendizagem. Este equívoco ocorre devido à falta de conhecimento sobre os fatores específicos que caracterizam a disgrafia, levando à inadequação das estratégias pedagógicas aplicadas. A metodologia empregada consiste na análise crítica de literatura, abrangendo estudos anteriores que exploram as causas, sintomas, e impactos da disgrafia no desenvolvimento cognitivo e acadêmico das crianças. A pesquisa destaca a importância de capacitar profissionais da educação para que reconheçam as especificidades da disgrafia, promovendo uma abordagem mais inclusiva e adaptada às necessidades dos alunos com esse transtorno.
Palavras-chave: Disgrafia; Escrita; Problemas; Dificuldades.
ABSTRACT
This study aims to analyze dysgraphia, a learning disorder that significantly affects the writing abilities of children in the early grades of elementary school. The relevance of the topic lies in the observation that dysgraphia is one of the main challenges faced in the educational environment and is often misdiagnosed and confused with other learning disorders. This mistake is due to a lack of knowledge about the specific factors that characterize dysgraphia, leading to inadequate pedagogical strategies being applied. The methodology employed consists of a critical analysis of the literature, covering previous studies that explore the causes, symptoms, and impacts of dysgraphia on the cognitive and academic development of children. The research emphasizes the importance of training educational professionals to recognize the specifics of dysgraphia, promoting a more inclusive approach that is adapted to the needs of students with this disorder.
Keywords: Dysgraphia; Writing; Problems; Difficulties.
1. INTRODUÇÃO
São diversas as teorias que enfatizam o processo de ensino – aprendizagem na vida escolar. Os especialistas em educação nos ensinam a realizar um processo educativo que realmente conduza o indivíduo a uma formação social, política e moral de qualidade. Os livros, as teorias demonstram e lançam “receitas” de como construir a escola para a cidadania, para formação do ser consciente de sua realidade, a escola autônoma – cidadã – libertadora, a escola na linhagem construtivista. Fato que não é novo, e que já há algum tempo é conhecido pela nossa gramática do ensinar com qualidade.
Só não é compreensivo ainda se vê milhares de crianças em idade de 10 a 15 anos que não conseguem lê o alfabeto, que não conseguem escrever, simbolizar o que lê, porque a escola não sabe como ensiná-las e o curioso é que essas crianças são clinicamente normais.
Essa realidade nos revela que nossas escolas, nossos profissionais da educação não estão preparados suficientemente para educar os milhares de indivíduos ditos “incapazes” pelo sistema e que estão por aí tentando aprender a se integrar, a ler o mundo.
São diversas as hipóteses que se podem levantar no que se refere a não aprendizagem da grafia padrão, do ato de escrever. Só não se compreende o porquê, já que as teorias estão aí para serem aplicadas da melhor forma possível no sentido de se conduzir a pessoa aprender a ler, a escrever, a entender o mundo a sua volta a partir da perspectiva escolar.
No entanto, observa-se, talvez que o sistema e os profissionais da educação ainda não estejam totalmente à vontade para uma revolução no ato de educar, pois se torna mais fácil assumir a mesmice pedagógica, do que realmente se importar com os que por aí perambulam com certos estigmas: “não querem nada”; “sua condição social implica no seu aprender”; “seus pais não estão nem aí para eles”... entre outros que os tornam os excluídos do processo educativo, porque a educação ainda assume uma posição de intolerância no que tange a sua práxis pedagógica.
Para tanto, a metodologia aplicada para a fundamentação do referido, foi a pesquisa e análise bibliográfica, vivência escolar, troca de experiência com educadores no sentido de entender o porquê do problema da disgrafia no processo ensino-aprendizagem de alunos das séries iniciais.
2. TEORIAS SOBRE A PRODUÇÃO E A AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO
Segundo Zanella (2003) ao longo do tempo, vários estudiosos procuram desvendar como ocorre a aprendizagem, a mesma acontece de forma circunstancial ou formal. A primeira acontece quando o ser humano interage em vários ambientes sem ter havido um planejamento prévio, ou seja, nas relações sociais do cotidiano. A aprendizagem formal é planejada, organizada de forma sistemática, onde professor e educando têm o mesmo objetivo, a aprendizagem. Porém só há aprendizagem, se houver mudança no comportamento do indivíduo.
As diversas teorias de desenvolvimento apoiam-se em diferentes concepções do homem e do modo como ele chega a conhecer. E essas teorias podem nos alicerçar no processo de aquisição da leitura. Vejamos algumas delas a seguir.
Na concepção ambientalista acredita-se que o meio determina o comportamento do homem através do condicionamento e este condicionamento é adquirido através de estímulos que reforçam ou punem seus comportamentos anteriores, haja vista que os estímulos podem ter consequências positivas e negativas. Por exemplo, se uma criança arrumar seus brinquedos depois de ter brincado e receber elogios de sua mãe ela procurará deixar os brinquedos arrumados mais vezes, porque estabeleceu uma nova associação entre esse comportamento e aquele de sua mãe.
A concepção inatista explica os conhecimentos através de sua existência já pré-formada na mente humana, sua personalidade seus valores, hábitos e crenças, sua forma de pensar, suas relações emocionais e mesmo sua conduta social, já encontraria basicamente prontas em sua forma final por ocasião do nascimento, sofrendo pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma transformação ao longo da existência. O papel do ambiente é tentar inferir o mínimo possível no processo do desenvolvimento espontâneo da pessoa.
Já a concepção humanista vê o homem como um ser bom, racional e livre e a mesma dá uma grande valorização as experiências do homem, aos sentimentos, aos valores e tudo que pode se dizer que é vida interior.
Essa teoria vê o homem como o “centro”, contendo dentro de si grandes potencialidades e estas só não desenvolverão se a família e a sociedade interferir negativamente, mas cabe ao indivíduo assumir a responsabilidade de sua própria vida e lutar contra a alienação da sociedade traçando assim seu próprio desenvolvimento.
Nenhuma dessas concepções acima citada, valoriza a ação do indivíduo no processo de construção do conhecimento. Surge uma nova concepção, que vê o sujeito como um ser capaz de construir seu próprio conhecimento (interacionismo).
Piaget identifica sua corrente como interacionista e se opõe as ideias empirista e inatista no que tange aquisição do conhecimento, para ele o conhecimento é adquirido através da ação do sujeito sobre o meio, assim, o indivíduo capta cognitivamente novos elementos (assimilação) a uma estrutura que já possui, definindo reajuste nessa estrutura (acomodação), o mesmo privilegia a maturação biológica por acreditar que os fatores internos prevalecem sobre os externos, postula que o desenvolvimento é um processo consecutivo e evidenciado, que passa por quatro fases distintas: a sensório-motora, a pré-operatória, a operatória concreta e operatória formal.
A etapa sensório-motora começa desde o primeiro dia de vida e vai aproximadamente até os dois anos de idade. Nela, a criança apoia-se exclusivamente em percepções sensoriais e em esquemas motores para resolver seus problemas que são práticos. A etapa pré-operatória inicia aos dois anos de idade com o surgimento da linguagem oral que é seu marco e vai até os sete anos de idade aproximadamente. O pensamento pré-operatório da criança é capaz de interiorizar ações mentais através da inteligência, porém, diferem do pensamento adulto, como é fácil constatar. Em primeiro lugar, depende das experiências infantis, todas as ações das crianças estão voltadas para si mesmas, por esta razão o período pré-operatório é chamado de pensamento egocêntrico. O animismo encontra-se presente nesta fase, o qual a criança atribui forma humana a objetos e animais. Essa é uma das características marcantes do pensamento pré-operatório.
A fase operatória concreta ocorre por volta dos sete anos de idade, nela pode se perceber as modificações que ocorreram em relação à fase anterior ao analisar o pensamento cognitivo, pois a inteligência infantil é uma das características da mesma. Nesta etapa a criança reduz o pensamento egocêntrico e passa a ter um pensamento lógico, sendo capaz de construir um conhecimento mais conciliável com o mundo que o rodeia.
Na etapa operatória formal o pensamento é liberto das limitações concretas e o adolescente passa a trabalhar com a realidade possível, construindo o raciocínio hipotético dedutível, esta é a principal característica desta fase. Nela a criança se torna capaz de raciocinar logicamente, mesmo se o conteúdo do seu raciocínio é falso, isto ocorre a partir dos treze anos de idade.
As diferentes etapas cognitivas apresentam, portanto, características próprias. Não há possibilidade de uma criança passar da etapa pré-operatória para a operatória formal, queimando a etapa anterior, o tempo em que às fases são atingidas pode não ser sempre a mesma para cada criança. Vale ressaltar que depende de fatores básicos: a maturidade do sistema nervoso, interação social, a experiência física e a equilibração.
Segundo Santos (2003) Vygostsky dá ênfase as possibilidades que o indivíduo dispõe a partir do meio em que está inserido, instrumentos físico e simbólico, acredita que o desenvolvimento do homem é progressivo e se dá através da interação, das experiências do ser com o ambiente, pois o seu pensamento é amplamente seguido pela fala e comportamento dos que possuem maior conhecimento, evolui adquirindo a competência de se autocorrigir. Esta interiorização progressiva que vem dos mais experientes não é linear porque a criança ao mesmo tempo em que se integra no social é capaz de assumir uma postura frente ao mesmo, ser seu crítico e agente transformador.
Santos (2003, p. 137, 138) afirma que “O desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado que ele realiza num determinado grupo cultural, a partir da interação com outros indivíduos da sua espécie”, deixando de ser um ser biológico passando a ser um ser humano.
3. PONDERAÇÕES ACERDA DO PROBLEMA DE APRENDIZAGEM
Educar é um processo dinâmico, que se inicia desde o nascimento até o fim da vida. As primeiras descobertas, a doce curiosidade da criança em entender, pegar, ver, revela a magnífica relação do ser humano com o aprender, com esse infinito universo de coisas que nos ensinam a crescer, a se relacionar com a vida, com o mundo. Esse aprender que acontece na relação com a família, na sociedade, na cultura, na escola. Dessa forma, aprender faz parte da vida do indivíduo, faz parte de seu crescimento enquanto ser social, político e cultural.
Nessa caminhada a escola por sua vez tem um papel fundamental na formação desse indivíduo e isso desde a educação infantil, aliás, a mais significativa no processo escolar. A mais significativa pelo fato, de que nessa etapa da vida, a criança começa seu ciclo de relação social com o mundo fora do seio familiar. Um mundo de grandes descobertas que podem mudar radicalmente o modo de ser, pensar e viver de uma pessoa.
Por isso, educar pessoas não é uma mera tarefa de se treinar a executar ações. Educar não é ciência robótica é ciência humana e sendo humana é essencial que sua práxis seja humana, sensível, dinâmica, criativa, solidária, conjunta, integradora.
Sendo assim, a educação necessita se configurar como um caminhar constante em busca do compreender dos fatos, fenômenos, realidades que nos cercam. Prioritariamente deve ser encarada como um ato de amor, em que o ser humano aprenda a valorizar a vida, a respeitar as diferenças, a ser agente de seu tempo, a ser um cidadão consciente de sua realidade e nessa realidade agir significativamente, humanamente.
Em outras palavras, a aprendizagem é um processo de aquisição e integração de informações, ocorrendo em todas as etapas da vida. É importante para a sobrevivência do indivíduo.
Doravante, uma disfunção nesse processo é denominada dificuldade de aprendizagem. E o que vem a ser esse termo denominado dificuldade de aprendizagem. Tal termo nos reporta a barreira, obstáculo, ao não entendimento de uma realidade. No caso da realidade escolar. Da leitura, da escrita, do cálculo, da interpretação. E na maioria dos casos o que se pode observar, de modo geral, em alunos com dificuldades de aprendizagem, são os problemas mais localizados nos campos da conduta e da aprendizagem. Campos estes intrinsecamente ligados a atividade motora, a atenção, a área matemática, a área verbal, as emoções, a memória, a percepção, a sociabilidade. Fato que tecnicamente faz a diferença no que diz respeito a distúrbio de aprendizagem que de acordo com Ciasca (2003, p.35) “o distúrbio de aprendizagem se caracteriza por uma disfunção do sistema nervoso central. Já a dificuldade escolar está relacionada, especificamente, à um problema de ordem ou origem de método de ensino”.
Diante disso, nos questionamos por que as teorias sobre o educar como verdade não são difundidas em nossas salas de aulas. Porque existem tantas crianças, jovens e até adultos com dificuldades de aprendizagem se estes frequentam uma escola legalmente reconhecida pelo Estado como ideal para educar. O que falta? O que deve ser feito? Se os livros, as técnicas, os especialistas, os cursos de formação, a formação continuada estão aí para serem executadas, diluídas.
São muitos as justificativas levantadas pelos profissionais da educação do porquê da criança não aprender. Uma delas, é aquela em que a criança não quer nada, é preguiçosa, desatenta, inquieta. Esses professores não querem ou não sabem enxergar porque essa criança é desinteressada, desatenta, inquieta. A primeira impressão maldosa é marginalizar sem tentar compreender o porquê das atitudes atípicas. Obviamente essa criança não vai aprender, pelo simples fato de que o pai, o seu professor, seus coleguinhas já lhe impuseram o perverso estigma de ser preguiçosa, desatenta, inquieta.
Certamente, esse professor, essa entidade educacional pensa que a Escola está aberta apenas para os indivíduos ditos “normais”, “perfeitos”. Eis aí, o porquê de muitas crianças não conseguirem aprender, ora que não são compreendidas, não são respeitadas em suas individualidades, não são instigadas a acordarem, a saírem da redoma que lhes sufoca, lhes nega o aprender.
Em outras palavras, a Escola não possui diretrizes curriculares concretas e possíveis de se trabalhar com um indivíduo portador de dificuldade de aprendizagem. Pois, tal assunto ainda é muito pouco debatido no meio escolar, principalmente em entidades educacionais que não dispõem do auxílio de uma equipe multidisciplinar: Psicólogo, Fonoaudiólogo, assistente social, Psicopedagogo etc. Na realidade quem acaba fazendo a maioria desses serviços é o Pedagogo, que se sobrecarrega, haja vista, que atende sozinho em muitas das vezes em uma Escola com mais de 1.200 alunos.
Assim, os grandes equívocos acontecem na hora de se diagnosticar um aluno com dificuldade de aprendizagem e como trabalhar com esse aluno, pois a Escola na sua falta de sensibilidade humana e de pessoal habilitado discrimina o educando com dificuldade de aprendizagem de maneira errônea e precipitada, levando esse aluno ao caminho da evasão, do fracasso, da exclusão social.
3.1 A DISGRAFIA COMO UM PROBLEMA DE APRENDIZAGEM NO DESENVOLVIMENTO ESCOLAR
O homem, em sua caminhada evolutiva, tem utilizado a escrita para registrar fatos, fenômenos e coisas de seu cotidiano. Essa prática vem se desenvolvendo à medida que a necessidade de expressão se ampliava, transformando em imagens tudo ao seu redor.
Desse modo, utilizou formas diversas desenhando em rochas sua visão de mundo, expressando modos de vidas, símbolos e toda sorte de paisagens, objetos, animais e demais entes da natureza como o fogo, o ar, plantas, rios. Nessa relação homem e natureza as ideias transformavam-se em símbolos. Cada representação elaborada apresentava-se além da intenção imediata da expressão cotidiana. Denotava sentidos diversos de valor socioantropológico de grande importância. De acordo com (HOUT & ESTIENE, 2001, p.28) "Esses desenhos, as pinturas rupestres, são relativamente complexos; as informações são numerosas e muitas vezes não unívocas; sua decodificação precisa contar com uma referência à cultura do escritor".
Diante das diversas etapas evolutivas, a atividade de escrita representa o desenvolvimento da linguagem humana, chegando aos dias atuais, da forma como a conhecemos. Isto é, os aspectos fonológicos representam a produção gráfica, integrando som e grafia. Nisso, o ato da escrita tem função essencial no processo de comunicação, integrando a cultura, por meio da transmissão de informações diversas produzidos historicamente.
Diante disso, a escrita assume um papel básico. Representa a troca de experiência e saberes, sendo um meio propulsor de informações, tornando o homem sujeito de linguagem que ocorre num determinado meio social.
Para situar essa discussão acerca da produção escrita dentro de um momento de comunicação, buscaremos enfocar nesse debate as dificuldades enfrentadas pelas crianças nas séries iniciais do ensino fundamental. E com isso se construir um olhar, uma compreensão sobre essas dificuldades e uma possível possibilidade de superação.
Acreditamos que uma discussão nesse sentido, proporcionará compreender a evolução da linguagem, enfocando a escrita como elemento que passa por etapas de evolução e seu uso cotidiano dentro de um panorama social.
Dessa forma, ao considerar a escrita como elemento da linguagem, podemos enfocar também as dificuldades para sua elaboração. Nesse sentido, abordaremos a temática disgrafia, onde um universo considerável de crianças apresenta essa dificuldade, promovendo déficits educacionais para esse segmento escolar.
Tentando se elaborar uma compreensão sobre essa temática, poderíamos afirmar que disgrafia é um grave problema que cria barreiras para o aprendizado da escrita; as pessoas que a apresentam sentem dificuldades enormes para executar qualquer tarefa que exija de si habilidades básicas de escrita. Mesmo com essa afirmação, há dificuldades nas escolas para se identificar o problema. Pois todos sabem que existem nas escolas muitas crianças que apresentam dificuldades na escrita; o domínio da escrita, para essas crianças, ainda é uma tarefa de difícil domínio.
Ao observarmos as tarefas dos alunos nas séries iniciais encontramos uma imensa diversidade de incorreções na escrita; escrever é, nessas situações, uma dificuldade evidente, a elucidação de seus pontos fracos. Nisso surgem indagações diversas: Todos esses pontos fracos são disgrafia? Ao olharmos crítica e atentamente sobre as dificuldades apresentadas pelos alunos, poderiam comparar que disgrafia, em sua essência possui características próprias que a diferencia de qualquer outra dificuldade na escrita. Nessa perspectiva é possível dizer que as características que diferenciam a disgrafia de uma outra dificuldade de escrita são os fatores que provocam cada uma.
De acordo com Garcia (1998), a disgrafia é uma dificuldade no desenvolvimento da escrita, mas só se classifica como tal quando, por exemplo, a qualidade da produção escrita mostra-se muito inferior ao nível intelectual de quem a produz. Quanto às outras dificuldades a escrita ruim vem associada a um baixo nível intelectual. Além disso, o mesmo autor também confirma que a disgrafia geralmente apresenta-se com outras alterações integradas e superpostas como os transtornos do desenvolvimento na leitura, transtornos no desenvolvimento da linguagem, transtornos do desenvolvimento matemático, transtornos de habilidades motoras e transtornos de conduta de tipo desorganizado.
Diante desses dados, podemos inferir que a disgrafia mesmo contendo elementos que a diferencia de outras dificuldades, não é algo que se constate facilmente e com facilidade dentro do ambiente escolar. Há necessidade de preparação e qualificação das pessoas que trabalham na escola para que seja capaz de perceber a disgrafia, pois a maioria das pessoas que atuam na área educacional, desconhecem ou sabem pouco sobre disgrafia. Mesmo atuando há muitos anos no ensino infantil, vários educadores hoje nem sequer ouviram falar dessa denominação.
O que constatamos é a existência de uma maior atenção em relação à disgrafia em cursos universitários de preparação de educadores. Mesmo com essa constatação, esses estudos, quando são considerados, se fundamentam apenas no conhecimento de nível teórico e não há um grande incentivo para que haja uma aplicação desses estudos nas nossas escolas.
Estas realidades sobre disgrafia foram levantadas por meio de pesquisas pelos alunos do curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA-, que ao aplicarem questionários e entrevistas com educadores de algumas cidades da região na qual a universidade está implantada, perceberam que muitos ignoravam do que se tratava. Constataram casos inclusive de gestores que não tinham o mínimo conhecimento acerca da questão. Nisso, é provável que diversos alunos estejam condenados a sofrer as consequências da disgrafia, por não receberem orientações e acompanhamento específico e necessário para a dificuldade apresentada.
Entretanto, na discussão sobre a disgrafia na escola, o que nos deve chamar a atenção é que por uma criança apresentar dificuldades em desenvolver habilidades escritas, não significa dizer que ela, de fato, apresente disgrafia, pois para construir tal diagnóstico, é necessário antes darmos atenção para a escolarização insatisfatória, algum tipo de distorção neurológica, ou seja, há necessidade de observação de vários fatores que podem se confundir com disgrafia.
Na visão de Hout e Estienne (1998, p. 198) "uma dificuldade típica observada nas disgrafias ou dificuldades de aprendizagem gráfica é a escrita em espelho". Aqui o autor elucida que pelo fato de os disgrafos não possuírem uma representação dos traços que formam os grafemas, eles criam uma confusão entre as letras p, q, d, e b; a pessoa compreende que a um traço em forma de linha vertical e outro em forma de semicírculo, no entanto, ela não sabe qual é a posição correta dos traços, o que vem antes ou o que vem depois.
Essas observações do referido autor entram em contraposição com as ideias de Shaywitz (2006, p. 87), onde afirma que:
Um dos maiores duradouros equívocos é o de que a criança disléxica vê as letras e as palavras de trás para frente e que escrever de maneira invertida é um sinal disso. (…) Outro equívoco parecido é escrever como se estivessem diante de espelho, o que acompanha a dislexia.
Neste item o autor reforça que escrever de trás para frente, é um procedimento comum nas primeiras etapas do processo de desenvolvimento da escrita entre crianças disléxicas e não disléxicas.
Esses elementos apontam para o fato de que o atraso na escrita pode se manifestar na construção sintática que se apresenta quando a criança utiliza uma linguagem carente de elementos gramaticais ou com gírias, ou mesmo com variedade regional de uma língua representada pelos dialetos.
Segundo Condemarin e Medina (2005, p. 67), "as excessivas correções ortográficas acabam levando o aluno a empobrecer seus escritos para evitar correr o risco de cometer muitos erros que serão sancionados pelo professor".
Muitas vezes ocorre um fato comum em avaliações de textos, onde por tradição, a escola sempre considerou a ortografia como algo fundamental para o qual devem ser consideradas todo o cuidado na hora de avaliar os textos escritos por alunos. No entanto, devemos saber que quando se dar grande importância especialmente para os erros ortográficos, acaba-se gerando um constrangimento entre o aluno e sua produção escrita. Fato esse que faz com que o aluno empobreça seus textos, limitando sua capacidade de escrever por medo de cometer muitos erros ortográficos, representando um bloqueio intelectual na produção escrita.
A leitura e a escrita são elementos importantes na formação do aluno, pois uma criança pode apresentar capacidade de ler bem e não demonstrar a mesma capacidade expressiva na escrita tendo dificuldade de organizar ideias para construir um texto, ou mesmo para apresentar muitos erros ortográficos, como também pode ocorrer o contrário: ela escreve bem, mas ao expressar-se por meio da fala se sente insegura deixando escapar as ideias de seu pensamento. Isso representa, em muitos aspectos, ausência de habilidades, pois uns são capazes de escrever, e outros, a ler ou expressar-se naturalmente. É fundamental elaborar mecanismos que ampliem essas habilidades procurando, ao mesmo tempo, desenvolver as outras que ainda necessitam ser trabalhadas. Geralmente, as disgrafias estão associadas às dislexias, uma vez que em muitos casos, as pessoas que têm dificuldade em ler, enfrentam igual dificuldade para elaborar textos.
Garcia (1998) enfatiza um ponto que evidencia a disgrafia. É o intercâmbio de letras que consiste na inversão feita entre as letras no contexto da palavra. Um exemplo demonstrado pelo autor é a palavra sol que é escrita por um disgráfico da seguinte forma: los. Isto é, a pessoa sabe que a palavra é composta pelas letras l, s, o, porém, ela não sabe qual é a ordem exata das letras.
As barreiras de expressão gráfica que as pessoas encontram nos processos motores podem se apresentar três tipos: nos alógrafos, que se manifesta quando a criança escreve letras maiúsculas entre as minúsculas e/ou vice-versa, acrescenta letras onde não existe ou não as dispõe onde deveriam existir; nos padrões motores gráficos (características das agrafias periféricas), quando escreve grafemas excessivamente grandes ou pequenos criando uma desproporção entre as letras; e por último, vem a organização geral que se desenvolve quando a criança faz um amontoado de letras e/ou palavras e, ao mesmo tempo, cria distâncias entre as mesmas e desrespeitas as margens.
De acordo com Shaywitz (2006, p. 87) "Estudos recentes demonstraram que a dislexia não só está presente em muitas famílias, como também é algo genético". A dislexia assim, pode, muitas vezes, ser um problema genético; comumente, certas famílias apresentam um parente disléxico e por isso, uma criança que faz parte dessa família deve ser monitorada para que sejam percebidos sinais de dificuldade em sua linguagem. A escrita permite o ato da comunicação com o mundo. O ato escrito é essencial, mas nem sempre esse ato ocorre de uma forma correta, sem barreiras por parte da pessoa que vai expressar comunicação por meio de um texto, por exemplo, pois ela engloba diversos processos de desenvolvimento que muitos casos certas pessoas não têm a capacidade de possuí-los com funcionamento adequado, dificultando esse ato.
Garcia (1998, p. 65) confirma que "Antes de escrever algo se faz necessário saber o que se vai escrever, esses processos são os que consomem mais tempo nas tarefas de escrita(...)". Permeiam, portanto, as construções que vão se fazer presentes no texto, uma busca de informações contidas na memória, estabelecendo os acontecimentos da vida e as informações produzidas e catalogadas na memória.
Para se construir um diagnóstico satisfatório dentro da caracterização do que se pretende verificar em relação à disgrafia, é que em relação à aprendizagem da escrita não se deve constatar que uma das causas dessa dificuldade seja uma inteligência baixa, sendo que o fundamental nesse diagnóstico é o tipo e a quantidade de erros. É necessário que se faça a realização de testes de leitura (precisão, fluência e compreensão), ortografia e linguagem, o que fundamenta a etapa principal para o diagnóstico da dislexia no aluno.
Para a elaboração de um texto, devem-se construir etapas de redação por meio de um planejamento gráfico, verificando-se o que se quer escrever, o conteúdo da escrita, quais as ideias e informações que irão ser construídas para um processo de transmissão coerente e significativo. Esse planejamento irá envolver a história e a memória da pessoa, a estruturação do texto de modo que se compreenda a mensagem que se quer passar e a revisão que tem o objetivo conduzir o indivíduo a identificar seus próprios erros sendo capaz de realizar as correções necessárias. Com relação ao planejamento, deve-se levar em conta ainda a característica do texto a ser elaborado, o modo de defesa dos argumentos e a quem se destina.
Diante da discussão elaborada sobre a disgrafia, é importante que o professor busque capacitação de modo que tenha condições de diagnosticar problemas relacionados a essa temática e assim ser capaz de elaborar práticas pedagógicas que permitam e auxiliem o aluno portador de disgrafia a superar tal dificuldade. É necessário haver frequentes intervenções e avaliações, para que se possa identificar o problema e elaborar um tratamento adequado.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Paulo Freire, o ato de ensinar antes de tudo, é um ato de respeito à individualidade do outro independente de raça, cor, classe, sexo, deficiência.
É uma tarefa que requer o desempenho e a cooperação de todos onde todos necessitam se integrarem na tentativa de se alcançar objetivos no que se referem a uma educação de qualidade. Uma educação voltada ao despertar do indivíduo a um aprendizado concreto e contextual. O aprender para aprender, de maneira dinamizada, prazerosa e motivadora em que os educandos se encontrem à vontade em sala de aula. Por isso, a educação necessita viver de experiências, de ousadia no que tange a produção e aplicação de recursos e metodologias que venham a colaborar ao desenvolvimento de um ensino-aprendizagem eficiente e de resultados satisfatórios.
O referente trabalho nos abriu os olhos para entender que diversas são as teorias que nos ensinam a ser Escolas, mas que a Escola em si na realidade, exclui, marginaliza, traumatiza, desrespeita. Ou seja, tem uma grande parcela de culpa relacionada ao problema de dificuldade de aprendizagem, mais especificamente a disgrafia aqui enfatizada.
Certamente mudar de atitude, fugir da rotina e abraçar o novo, o diferente, é tarefa árdua e trabalhosa podendo causar incredulidades e daí então, deixar que tudo se evapore por falta de empenho ou permaneça em discursos apologéticos sobre a arte de como ensinar.
A Escola necessita abandonar velhas práticas de como educar e começar uma revolução no seu fazer pedagógico, fundamentalmente em colaboração conjunta com o corpo docente, família, alunos, comunidade. Pois é supra essa ação política no meio escolar. Uma ação em que a Escola seja sinônimo: de inclusão, de eficiência, de qualidade no como fazer, para quem fazer, no por que fazer...
Em outras palavras, viver a Escola significa ir muito além da simples e alienante proposta curricular de moldagem do ser. Educar exigi uma revolução interna, principalmente nos agentes que estão a sua frente. Ter a educação como uma profissão igual a outras ou como um quebra galho, é destinar a Escola ao fracasso no que diz respeito à formação social, intelectual, moral e ética do ser. A educação tem que ser levada a sério, com todo afinco, vontade, amor.
Portanto, enquanto não haver mudanças de atitudes no ser, fazer e entender a educação escolar como uma ação de prioridade e excelência, estaremos fadados a eterna mesmice pedagógica, de formação do ser alienado, marginalizado, excluído. Incapaz de ler e compreender o tempo, a vida, o mundo ao seu redor.
5. REFERÊNCIAS
CONDERIM, Mabel; MEDINA, Alejandra. Avaliação Autêntica: um meio para melhorar as competências em linguagem e comunicação. Porto Alegre, Artmed, 2005.
CIASCA, S. M. Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. Campinas: Casa do Psicólogo, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 28. ed. São Paulo (SP): Paz e Terra, 1996.
GARCIA, Jesus Nicácio. Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura,escrita e matemática. Tradução de Jussara Houbert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
HOUT, Anne Van; ESTIENNE, Françoise. Dislexias: descrição, avaliação, explicação,tratamento. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2001.
SANTOS, Bettina Steren dos. Vygotsky e a teoria histórico-cultural. In: La Rosa, Jorge (org.). Psicologia e Educação: o significado do aprender. 6ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
SHAYWTZ, Sally. Entendendo a dislexia: um novo e complexo programa para todos os níveis de problema de leitura. Porto Alegre: Artmed, 2006.
ZANELLA, Liane. Aprendizagem: uma introdução. In: La Rosa, Jorge (org.). Psicologia e Educação: o significado do aprender. 6ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
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Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).
Como citar esse artigo:
VIANA, Wanessa Costa; SANTANA, Alfredo Henrique Castro; ROCHA Jesuslene Gomes. Um estudo crítico sobre a disgrafia nas séries iniciais relacionado as dificuldades na escrita. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 502-517. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.029
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