A disgrafia é um transtorno de aprendizagem relacionado à escrita, e não à falta de motivação ou preparação do aluno. É uma condição que afeta a habilidade de escrever coerentemente, tanto em termos da formação das letras quanto da organização espacial no papel. Neste artigo, de forma prática, vamos entender o que é disgrafia, suas causas, sintomas e estratégias de intervenção.
1. O QUE É DISGRAFIA?
A disgrafia é frequentemente descrita como a "dislexia da escrita". Assim como a dislexia afeta a leitura, a disgrafia compromete a habilidade de uma pessoa escrever de forma legível e fluente. Vale ressaltar que a disgrafia não está relacionada à capacidade cognitiva geral do indivíduo, ou seja, uma pessoa pode ser muito inteligente e ainda assim ter disgrafia.
A disgrafia é um transtorno de aprendizagem que pode surgir tanto em crianças quanto em adultos, sendo mais comumente identificada durante a infância. Um dos sinais mais notórios desse distúrbio é uma caligrafia quase indecifrável. Esta dificuldade não se restringe apenas à legibilidade da escrita, mas se estende a outros aspectos como ortografia, coerência na construção textual e até mesmo no desafio de traduzir pensamentos e sentimentos para o papel. Por isso, não é raro observar indivíduos com disgrafia levando um tempo consideravelmente maior para concluir tarefas escritas, sejam elas acadêmicas ou do cotidiano.
1.1 Os Diversos Perfis da Disgrafia
Existem diferentes formas pelas quais a disgrafia se manifesta, cada uma com suas particularidades. A disgrafia maturativa, por exemplo, refere-se a desafios encontrados durante o estágio inicial de aprendizagem da escrita, quando a criança está ainda desenvolvendo suas habilidades motoras e cognitivas para a escrita. Já a disgrafia adquirida pode surgir devido a métodos de ensino inapropriados ou mesmo como resultado de lesões cerebrais, indicando que não apenas fatores inatos, mas também ambientais e traumáticos, podem desencadear o transtorno.
1.2 Aprofundando nas Tipologias
O tipo perceptivo da disgrafia caracteriza-se por um gap entre o entendimento do símbolo, como letras e palavras, e seu respectivo significado. Isso pode levar a confusões na hora da escrita e uma dificuldade em assimilar conceitos que são facilmente compreendidos por outros. A disgrafia motora, por sua vez, está associada à coordenação motora fina, ou seja, à capacidade de realizar movimentos precisos com as mãos, essenciais para a escrita. Isso pode resultar em letras malformadas ou uma caligrafia trêmula. Por fim, a disgrafia espacial reflete desafios no design e na disposição das palavras, impactando a forma como elas são representadas no papel.
3. A IMPORTÂNCIA DO DISGNÓSTICO DA DISGRAFIA
O diagnóstico preciso da disgrafia é fundamental para moldar o futuro acadêmico e social de um indivíduo. No contexto acadêmico, a disgrafia pode comprometer significativamente o desempenho do aluno. Tarefas simples, como anotar informações em sala de aula ou responder a questões de prova escrita, podem tornar-se desafiantes, impactando negativamente na autoestima e na percepção do próprio valor do estudante. Sem um diagnóstico adequado, os professores e colegas podem interpretar erroneamente a dificuldade como desinteresse ou preguiça, o que pode levar a rotulações injustas e isolamento social.
Além disso, o ambiente escolar é onde as crianças e adolescentes desenvolvem muitas de suas habilidades sociais. Sentir-se diferente ou inferior em relação às atividades acadêmicas pode desencadear ansiedade, retraimento ou até mesmo evasão escolar. Essas consequências sociais podem se estender além dos muros da escola, afetando a capacidade do indivíduo de estabelecer relações interpessoais e enfrentar desafios cotidianos.
Identificar a disgrafia e compreender sua origem possibilita que intervenções específicas sejam implementadas, como terapias ocupacionais, uso de recursos tecnológicos ou adaptações curriculares. Além de auxiliar no aspecto pedagógico, o diagnóstico oferece uma oportunidade para educadores, familiares e o próprio indivíduo reconhecerem e valorizarem suas potencialidades, favorecendo uma visão mais inclusiva e humanizada no ambiente escolar e social. Assim, a importância do diagnóstico na disgrafia não reside apenas na identificação de um desafio, mas na abertura de caminhos para o desenvolvimento pleno do indivíduo em todos os âmbitos de sua vida.
Eu tive dificuldades em continuar os estudos por ter problemas de escrita e ainda acumular discalculia. Assim, tive uma grande lacuna em minha carreira acadêmica: fiquei dezenas de anos sem dar continuidade aos meus estudos. Nesse período, escrevi 4 livros, realizei inúmeras palestras motivacionais por quase todo o Brasil, prestei consultoria para várias empresas, fui apresentador de um programa de TV e trabalhei com revisão ortográfica e gramatical de livros e trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado.
Durante todo esse período, nunca parei de estudar, sendo autodidata, sobre ciências humanas, exatas e biológicas, aprendendo sobre a legislação do nosso país, os avanços da medicina, estudos da mente, a psicanálise freudiana, história do Brasil e do mundo, gestão de pessoas, entre outros temas das ciências administrativas, humanas e biológicas.
Depois que obtive consciência sobre meus transtornos e como isso, de fato, não deveria ter me feito desistir da carreira acadêmica, em 2023, aos meus 44 anos, voltei à "carteira escolar" para cursar, simultaneamente, bacharelado em psicanálise pela UNINTER, bacharelado em psicopedagogia pela UNIFATECIE e o curso de tecnólogo em Terapias Integrativas e Complementares pela UNIFATECIE. Espero, no entanto, que esse seja apenas o começo, pois, se Deus assim me permitir, quero dar continuidade aos meus estudos até o fim da minha vida. Amo estudar e as minhas condições, ou transtornos relacionados à escrita cursiva e aos cálculos matemáticos, não mais me impedirão de seguir meus sonhos.
3.1 Causas da Disgrafia
As causas exatas da disgrafia ainda não são totalmente compreendidas. No entanto, acredita-se que esteja relacionada a uma coordenação motora deficiente e a diferenças no modo como o cérebro processa informações. Algumas pesquisas sugerem que pode haver uma base genética, enquanto outras indicam que lesões cerebrais ou complicações durante a gestação e o parto podem aumentar o risco de disgrafia.
3.2 Sintomas da Disgrafia
Os sintomas da disgrafia variam, mas frequentemente incluem:
Dificuldade na formação de letras: As letras podem ser formadas de maneira incorreta, incompleta ou em tamanhos desproporcionais.
Problemas de coordenação: Dificuldade em manter uma linha reta ou margens consistentes no papel.
Aperto inapropriado no lápis ou caneta: Isso pode causar fadiga ou dor na mão.
Dificuldade em organizar pensamentos no papel: A pessoa pode ter uma excelente compreensão oral, mas luta para expressar essas ideias por escrito.
Velocidade de escrita muito lenta ou muito rápida, resultando em trabalhos escritos ilegíveis.
Dificuldade em seguir sequências: Como, por exemplo, escrever o alfabeto em ordem.
4. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO EM CASOS DE DISGRAFIA
Se uma criança ou adulto é diagnosticado com disgrafia, várias estratégias podem ser implementadas:
Terapia Ocupacional: Ajuda a melhorar a coordenação motora fina e a força das mãos.
Ajustes na sala de aula: Permitir o uso de computadores ou dispositivos de entrada de texto, dar mais tempo para atividades escritas e fornecer notas de aula.
Ensino de habilidades de escrita explícitas: Como a formação de letras, uso de linhas guias e prática de escrita regular.
Uso de ferramentas adaptativas: Como lápis de aperto especial ou papel pautado.
4.1 Entendendo o Caminho para Tratar a Disgrafia
Ao perceber dificuldades persistentes na escrita e aprendizagem de um estudante, o diagnóstico de disgrafia pode ser aventado. Frequentemente, as primeiras suspeitas surgem no ambiente escolar, onde os padrões de escrita são continuamente observados e avaliados. No entanto, a definição exata do tratamento adequado é multifacetada, dependendo especificamente do tipo de disgrafia identificada, das causas subjacentes e dos sintomas manifestados pelo indivíduo.
4.2 A Busca por Especialistas e Terapias Direcionadas
A jornada para tratar a disgrafia geralmente começa com a orientação de especialistas na área, que incluem psicopedagogos e neuropediatras. Esses profissionais têm a expertise para desvendar as particularidades do transtorno em cada criança e guiar um plano de intervenção personalizado. Em situações onde a disgrafia tem uma forte componente motora, a terapia ocupacional pode se mostrar uma ferramenta essencial. Ela aborda a melhoria das habilidades motoras, focando em exercícios que promovem a força e o tônus muscular, elementos fundamentais para uma escrita fluida e legível.
4.3 A Influência Vital de Familiares e Educadores
Não menos importante no tratamento da disgrafia é o papel desempenhado por aqueles que cercam a criança em seu cotidiano: família e educadores. O apoio emocional, o entendimento e o reforço positivo são cruciais para garantir que o jovem não apenas desenvolva habilidades de escrita, mas também mantenha sua autoestima e confiança. A superação de desafios como a disgrafia requer uma abordagem holística, que abarque não apenas aspectos técnicos e terapêuticos, mas também o bem-estar emocional do indivíduo.
4.4 Atividades Práticas e Estratégias Eficazes
Para aprimorar o desenvolvimento psicomotor e a habilidade gráfica, uma série de atividades práticas têm demonstrado eficácia. Exercícios grafomotores, como labirintos e trilhas pontilhadas, ajudam a criança a ganhar controle sobre seus movimentos manuais. Atividades pictográficas, como desenhar, pintar e modelar, incentivam a expressão criativa e fortalecem a coordenação. Além disso, práticas contínuas de caligrafia, a correção da postura ao escrever, a otimização da posição das mãos e do papel, e o estímulo à verbalização das formas das letras, são estratégias que, juntas, podem criar um ambiente propício para superar as dificuldades impostas pela disgrafia.
5. CONCLUSÃO
A disgrafia, mais do que um simples desafio na escrita, é uma janela para compreender a diversidade e complexidade dos processos de aprendizagem humanos. Enquanto muitas pessoas lidam com essa condição diariamente, é imprescindível salientar que cada indivíduo é singular e, por isso, as manifestações e repercussões da disgrafia variam amplamente. No entanto, com uma abordagem empática e recursos especializados, aqueles com disgrafia não apenas superam barreiras acadêmicas, mas também florescem em suas carreiras e vidas pessoais, provando que os desafios, por mais intrincados que sejam, podem ser transformados em oportunidades de crescimento e autoconhecimento.
Identificar precocemente a disgrafia é uma etapa fundamental na jornada de apoio a quem enfrenta este transtorno. O reconhecimento não se refere apenas à detecção dos sintomas, mas também à validação das experiências e sentimentos da pessoa. Quando pais, educadores e profissionais se mostram atentos e proativos em relação à condição, aumenta-se a chance de intervenções bem-sucedidas e a implementação de estratégias que alavanquem as habilidades individuais. O apoio não é apenas técnico, mas profundamente humano, servindo como lembrete de que todos têm seu próprio ritmo e trajetória de aprendizagem.
Por fim, é vital reconhecer que a disgrafia, como qualquer outro desafio, não define a totalidade de uma pessoa. Com o suporte e as ferramentas certas, aqueles que enfrentam este transtorno podem, e muitas vezes conseguem, alcançar alturas surpreendentes em suas aspirações acadêmicas e profissionais. O futuro para esses indivíduos é repleto de possibilidades, e a chave para desbloquear esse potencial reside na combinação de uma compreensão profunda, apoio inabalável e a crença de que cada pessoa, independentemente dos obstáculos, possui um valor inestimável e um conjunto único de talentos e habilidades.
Bibliografia Pesquisada:
GÓMEZ, Ana Maria Salgado; TERÁN, Nora Espinosa. Dificuldades de aprendizagem: detecção e estratégias de ajuda. São Paulo: Cultural, 2009.
HUDSON, Diana. Dificuldades específicas de aprendizagem: Ideias práticas para trabalhar com: dislexia, discalculia, disgrafia, dispraxia, Tdah, TEA, Síndrome de Asperger e TOC. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2019.
MORAIS, Antônio Manuel. Distúrbios de aprendizagem – uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: EDICON, 1959.
PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Editora Penso, 1985.
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Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).
Como citar esse artigo:
SOUSA, Jociandre Barbosa de. Disgrafia: Entendendo os Desafios da Escrita. Senador Pompeu: Editora UNISV, 2023. Disponível em: <https://www.editoraunisv.com.br/post/disgrafia-entendendo-os-desafios-da-escrita>. Acesso em: (data do acesso)
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