O PAPEL DA PERFUSÃO NA GESTÃO DO SANGUE DURANTE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA: ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR A HEMODILUIÇÃO E A NECESSIDADE DE TRANSFUSÃO
- Vinicius Machado Bauer
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THE ROLE OF PERFUSION IN BLOOD MANAGEMENT DURING EXTRACORPOREAL CIRCULATION: STRATEGIES TO REDUCE HEMODILUTION AND THE NEED FOR TRANSFUSION
Informações Básicas
Revista Qualyacademics v.3, n.2
ISSN: 2965976-0
Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).
Recebido em: 03/04/2025
Aceito em: 06/04/2025
Revisado em: 18/04/2025
Processado em: 23/04/2025
Publicado em: 25/04/2025
Categoria: Estudo de Revisão
Como citar esse material:
BAUER, Vinicius Machado; MARTINS, Vera Lúcia; REDON, Rafaela Mourão. O papel da perfusão na gestão do sangue durante circulação extracorpórea: Estratégias para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusão. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.3, n.1, 2025; p. 24-39. ISSN 2965976-0 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v3n2.002
Autores:
Vinicius Machado Bauer
Pós-graduando em Circulação extracorpórea e assistência circulatória mecânica pelo Instituto Nacional de Cardiologia, Graduado em BIomedicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Contato: viniciusbauerbauer@gmail.com
Vera Lúcia Martins
Fisioterapeuta, coordenadora geral do curso de Assistência Circulatória Mecânica do INC, perfusionista-chefe do Serviço de Perfusão do INC.
Rafaela Mourão Redon
Enfermeira, coordenadora pedagógica do curso de Assistência Circulatória Mecânica do INC, perfusionista pediátrica do Serviço de Perfusão do INC.
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RESUMO
Este artigo se propõe a investigar as estratégias de perfusão descritas na literatura para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusões sanguíneas durante procedimentos com circulação extracorpórea. A cirurgia com circulação extracorpórea pode provocar hemodiluição significativa, que frequentemente leva à necessidade de transfusão de sangue, aumentando os riscos associados aos procedimentos cirúrgicos, como reações transfusionais e infecções. Este estudo procura responder à questão: Quais estratégias podem ser implementadas para mitigar a hemodiluição e o uso de transfusões, e quais são seus efeitos nos desfechos clínicos dos pacientes? Revisões sistemáticas da literatura identificam várias abordagens promissoras, como a minimização do uso de fluidos cristalóides e a utilização de tecnologias de autotransfusão, que podem diminuir substancialmente a necessidade de transfusões. Esses métodos, além de serem eficazes na preservação do sangue do paciente, mostram-se igualmente relevantes na melhoria dos resultados clínicos, reduzindo complicações pós-operatórias e tempo de recuperação.
Palavras-chave: Hemodiluição, Transfusão sanguínea, Perfusão, Circulação extracorpórea, Estratégias de perfusão, Autotransfusão, Minimização de fluidos, Segurança cirúrgica.
ABSTRACT
This article aims to investigate the perfusion strategies described in the literature to reduce hemodilution and the need for blood transfusions during procedures involving extracorporeal circulation. Surgery with extracorporeal circulation can cause significant hemodilution, often leading to the need for blood transfusion and increasing the risks associated with surgical procedures, such as transfusion reactions and infections. This study seeks to answer the following question: What strategies can be implemented to mitigate hemodilution and the use of transfusions, and what are their effects on patients' clinical outcomes? Systematic reviews of the literature identify several promising approaches, such as minimizing the use of crystalloid fluids and utilizing autotransfusion technologies, which can substantially reduce the need for transfusions. These methods, besides being effective in preserving the patient’s blood, are also highly relevant for improving clinical outcomes, reducing postoperative complications, and shortening recovery time.
Keywords: Hemodilution, Blood transfusion, Perfusion, Extracorporeal circulation, Perfusion strategies, Autotransfusion, Fluid minimization, Surgical safety.
1. INTRODUÇÃO
A circulação extracorpórea (CEC) é uma técnica vital em procedimentos cirúrgicos de grande complexidade, especialmente nas cirurgias cardíacas, permitindo a manutenção da perfusão sanguínea e da oxigenação dos tecidos durante a interrupção temporária da função cardíaca e pulmonar. A eficácia dessa tecnologia depende da habilidade do perfusionista em gerenciar adequadamente a circulação extracorpórea e os parâmetros hemodinâmicos do paciente. Um dos maiores desafios na CEC é o manejo do sangue, particularmente no que diz respeito à hemodiluição — uma condição em que o sangue se torna diluído devido à introdução de fluidos durante a perfusão, o que pode levar à necessidade de transfusão sanguínea (Tyndall et al., 2020).
A hemodiluição e a transfusão de sangue são fatores críticos que podem influenciar o desfecho clínico dos pacientes, visto que transfusões excessivas estão associadas a complicações infecciosas, reações adversas e sobrecarga circulatória (Jansen et al., 2019). Além disso, o uso indiscriminado de transfusões pode aumentar o risco de dano renal, complicações pulmonares e disfunção endotelial (Herman et al., 2021). Portanto, é imperativo que os perfusionistas adotem estratégias eficazes para minimizar esses riscos, gerenciando de forma otimizada a quantidade de fluido administrado, a anticoagulação, e a hemoconcentração (Zhao et al., 2022).
Estudos recentes apontam que estratégias de perfusão, como o uso de hemoconcentradores, ajustes finos no controle de líquidos e a monitorização avançada de parâmetros hemodinâmicos, têm mostrado ser eficazes na redução da hemodiluição e da necessidade de transfusão sanguínea, sem comprometer a segurança do paciente (Chen et al., 2021). A hemoconcentração, por exemplo, permite uma melhor preservação do hematócrito, reduzindo a necessidade de volumes excessivos de soluções perfusionais e contribuindo para um gerenciamento mais equilibrado do sangue circulante (Schmidt et al., 2020).
Além disso, o controle rigoroso da anticoagulação, adaptando os níveis de anticoagulante às necessidades do paciente, também desempenha um papel crucial na prevenção de complicações hemorrágicas durante a CEC. Estudos indicam que a personalização da anticoagulação pode reduzir a incidência de sangramentos excessivos e, consequentemente, minimizar o uso de transfusões de sangue (Stevens et al., 2023).
O objetivo desta pesquisa é analisar as estratégias de perfusão utilizadas para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusão durante a circulação extracorpórea, com ênfase na avaliação de suas implicações para a segurança do paciente e para a melhoria dos desfechos clínicos. A pesquisa buscará identificar práticas de perfusão que não apenas preservem os parâmetros hemodinâmicos, mas que também otimizem o uso de sangue, reduzindo os riscos associados à transfusão.
Essa introdução contextualiza o tema e apresenta a relevância da pesquisa, destacando o impacto da hemodiluição e das transfusões sanguíneas nos desfechos clínicos dos pacientes, enquanto propõe um olhar sobre as estratégias de perfusão que visam reduzir esses riscos. Além disso, inclui referências bibliográficas atuais, demonstrando a base científica existente sobre o tema e estabelecendo uma base sólida para a pesquisa.
2. METODOLOGIA DE REVISÃO DE LITERATURA
A presente revisão de literatura foi conduzida com o objetivo de identificar, analisar e sintetizar as evidências disponíveis sobre as estratégias de perfusão para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusão sanguínea durante circulação extracorpórea. Esta revisão seguirá uma abordagem sistemática e qualitativa, com foco em estudos clínicos e experimentais que abordem o manejo do sangue durante procedimentos de CEC, particularmente as práticas que visam melhorar a segurança do paciente e otimizar o uso de sangue e fluidos.
2.1. ESTRATÉGIA DE BUSCA
A pesquisa foi realizada em bases de dados científicas reconhecidas, como:
· PubMed
· Scopus
· Cochrane Library
· Google Scholar
· Web of Science
Os critérios de busca incluiram uma combinação de palavras-chave relacionadas ao tema, tais como:
· "Circulação extracorpórea"
· "Perfusão extracorpórea"
· "Hemodiluição"
· "Necessidade de transfusão"
· "Estratégias de perfusão"
· "Hemoconcentração"
· "Controle de líquidos"
· "Anticoagulação na CEC"
· "Desfechos clínicos"
A busca foi refinada por meio de filtros de data (últimos 10 anos), para garantir que a revisão inclua apenas artigos atualizados e relevantes sobre os avanços e as melhores práticas no manejo da perfusão. Além disso, foram considerados apenas estudos em humanos e em inglês, português ou espanhol.
2.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Foram incluídos na revisão os seguintes tipos de estudos:
· Estudos clínicos e experimentais que investigaram o impacto das estratégias de perfusão na redução da hemodiluição e da transfusão sanguínea durante a circulação extracorpórea (CEC).
· Artigos que abordaram técnicas específicas de perfusão, como hemoconcentração, controle de líquidos, monitoramento avançado e anticoagulação.
· Estudos que relacionaram essas práticas a desfechos clínicos, como recuperação pós-operatória, incidência de complicações (infecções, disfunção renal, etc.) e a segurança do paciente.
· Revisões sistemáticas que trataram da gestão do sangue e do controle de fluidos durante CEC.
2.3. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Foram excluídos:
· Estudos não clínicos, como relatos de caso ou pesquisas puramente laboratoriais.
· Artigos que não apresentaram uma análise direta sobre o impacto das estratégias de perfusão no manejo do sangue ou que abordaram apenas aspectos técnicos da perfusão sem considerar os desfechos clínicos.
· Estudos que não estavam publicados em inglês, português ou espanhol, devido à limitação no processo de análise.
2.4. SELEÇÃO DE ESTUDOS
A seleção dos estudos foi realizada em duas etapas:
1. Triagem Inicial: Foi feita uma leitura do título e do resumo de cada artigo obtido na busca. Foram selecionados aqueles que claramente atendiam aos critérios de inclusão.
2. Leitura Completa: Em seguida, foi realizada a leitura integral dos estudos selecionados para garantir sua adequação aos critérios de inclusão, com foco nas metodologias, intervenções analisadas e desfechos apresentados.
2.5. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS ESTUDOS
A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada com base nos seguintes critérios:
· Rigor metodológico: Avaliou-se a clareza nos objetivos, a coesão da metodologia e a validade das conclusões. Estudos com amostras pequenas ou sem controle adequado foram classificados com menor pontuação.
· Relevância dos resultados clínicos: Foram priorizados artigos que apresentaram dados robustos sobre os impactos diretos das estratégias de perfusão na redução de transfusões e hemodiluição.
· Tipo de estudo: Dentre os estudos clínicos, foram priorizados ensaios clínicos randomizados, seguidos de estudos observacionais de coorte e revisões sistemáticas com meta-análise.
Essa avaliação de qualidade foi conduzida de forma qualitativa, com base nos critérios do Cochrane Risk of Bias Tool e da Escala de Newcastle-Ottawa para estudos observacionais (Higgins et al., 2011; Wells et al., 2014).
2.6. ANÁLISE E SÍNTESE DOS DADOS
A análise dos estudos foi realizada por meio de uma síntese qualitativa, organizando as informações de acordo com os seguintes tópicos principais:
· Estratégias de perfusão: Foram descritas as técnicas e abordagens de perfusão adotadas, como controle de volume, hemoconcentração, ajustes de anticoagulação e uso de tecnologias de monitoramento avançado.
· Impacto na hemodiluição: Foram analisados os efeitos das estratégias na redução da hemodiluição durante a CEC e sua relação com a necessidade de transfusão sanguínea.
· Impacto nos desfechos clínicos: Observou-se a relação entre as práticas de perfusão e a melhora nos resultados pós-operatórios, incluindo recuperação, redução de complicações e diminuição da mortalidade.
Os estudos foram categorizados e comparados conforme as intervenções descritas, permitindo uma análise aprofundada das estratégias mais eficazes. A revisão qualitativa concentrou-se na identificação de padrões e tendências nas abordagens de perfusão que demonstraram melhores resultados em termos de segurança e eficácia.
2.7. SÍNTESE DOS RESULTADOS
Os resultados foram apresentados em uma síntese narrativa, destacando as principais estratégias de perfusão identificadas, as evidências sobre sua eficácia na redução da hemodiluição e da transfusão sanguínea, e as implicações para a prática clínica. Foram discutidas as limitações dos estudos incluídos e as lacunas de pesquisa existentes, sugerindo possíveis direções para investigações futuras.
2.8. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Por se tratar de uma revisão de literatura, não houve necessidade de aprovação ética. No entanto, assegurou-se o rigor no processo de seleção dos estudos, garantindo a transparência e a reprodutibilidade da revisão. Todos os dados dos estudos incluídos foram devidamente citados e as fontes respeitaram os direitos autorais dos trabalhos originais.
Essa metodologia estabeleceu uma abordagem rigorosa e transparente para a revisão de literatura, com foco na qualidade dos estudos e na síntese das melhores práticas de perfusão para redução de hemodiluição e transfusão sanguínea, contribuindo para o avanço das práticas clínicas e para o aprimoramento da segurança do paciente em procedimentos com circulação extracorpórea.
3. RESULTADOS
A revisão de literatura sobre as estratégias de perfusão para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusão sanguínea durante a circulação extracorpórea (CEC) revelou um conjunto diversificado de abordagens, cada uma com seus respectivos impactos nos desfechos clínicos dos pacientes. A análise qualitativa dos estudos identificou as práticas mais eficazes, assim como as evidências sobre sua segurança e eficácia. Abaixo, são apresentados os principais resultados organizados em categorias conforme os objetivos da revisão.
3.1. ESTRATÉGIAS DE PERFUSÃO PARA REDUZIR A HEMODILUIÇÃO
A hemodiluição é uma consequência inevitável da circulação extracorpórea, uma vez que a substituição do sangue por soluções de perfusão dilui a concentração de hemácias e outros componentes sanguíneos. Contudo, as estratégias de perfusão têm evoluído para minimizar esse efeito adverso, com o uso de hemoconcentradores sendo uma das abordagens mais estudadas.
Hemoconcentração: O uso de hemoconcentradores, dispositivos que permitem a remoção de fluido da circulação extracorpórea durante o procedimento, demonstrou ser uma estratégia eficaz para reduzir a hemodiluição. Estudos indicam que a hemoconcentração não apenas preserva o hematócrito durante a CEC, mas também reduz significativamente a necessidade de transfusões de sangue (Schmidt et al., 2020; Zhao et al., 2022). Por exemplo, um estudo de Schmidt et al. (2020) mostrou que, ao usar hemoconcentradores, a taxa de transfusão de sangue foi reduzida em até 25%, comparado ao grupo controle sem hemoconcentração.
Controle de Volume de Fluido: A administração de líquidos é outra área crítica na perfusão extracorpórea. Estudos destacam a importância do controle rigoroso do volume de fluido, que pode ser ajustado em tempo real, dependendo da resposta hemodinâmica do paciente. A utilização de monitoramento hemodinâmico avançado, como a medição contínua do hematócrito, permite aos perfusionistas ajustar o volume de solução perfusional de maneira mais precisa, contribuindo para a redução da hemodiluição (Chen et al., 2021).
3.2. REDUÇÃO DA NECESSIDADE DE TRANSFUSÃO
A transfusão sanguínea está intimamente associada a riscos como reações alérgicas, sobrecarga de volume e complicações infecciosas (Herman et al., 2021). Portanto, as estratégias que visam reduzir ou até eliminar a necessidade de transfusão durante a CEC têm sido objeto de extensa pesquisa.
Uso de Hemoconcentradores: Conforme mencionado, a hemoconcentração é uma das abordagens mais eficazes para reduzir a transfusão sanguínea. Um estudo de Jansen et al. (2019) demonstrou que a utilização de hemoconcentradores diminui a necessidade de transfusão de hemácias e plasma, resultando em uma redução significativa de complicações relacionadas à transfusão, como infecções e distúrbios do equilíbrio ácido-base.
Estratégias de Anticoagulação Personalizada: A anticoagulação durante a CEC é crucial para prevenir a formação de trombos, mas o uso excessivo de anticoagulantes pode aumentar o risco de sangramentos excessivos e, consequentemente, a necessidade de transfusões. A revisão revelou que estratégias de anticoagulação personalizada, ajustando a dose de anticoagulante de acordo com parâmetros específicos do paciente, como o tempo de ativação da tromboplastina parcial (TAP), demonstram reduzir o risco de sangramentos e a necessidade de transfusões sanguíneas (Stevens et al., 2023; Zhao et al., 2022).
Tecnologias de Monitoramento Avançado: O uso de tecnologias de monitoramento avançado de parâmetros hemodinâmicos, como a monitorização contínua do hematócrito e a avaliação do equilíbrio ácido-base em tempo real, também foi identificado como uma estratégia eficaz para reduzir o volume de fluido administrado e melhorar a precisão na gestão da transfusão. A capacidade de ajustar os parâmetros de perfusão em tempo real permite que a perfusão seja mais eficiente, o que pode reduzir a necessidade de transfusões sanguíneas (Chen et al., 2021).
3.3. IMPACTO NOS DESFECHOS CLÍNICOS
A redução da transfusão de sangue e da hemodiluição está associada a melhores desfechos clínicos em pacientes submetidos à CEC. Os resultados indicam que a adoção de práticas eficazes de perfusão não só melhora os parâmetros hemodinâmicos, mas também reduz a incidência de complicações pós-operatórias.
Melhora na Recuperação Pós-Operatória: A implementação de estratégias de hemoconcentração e controle rigoroso de volume de fluido foi associada a uma recuperação mais rápida e uma menor incidência de complicações pós-operatórias, como insuficiência renal e disfunção pulmonar. Estudos como os de Herman et al. (2021) e Tyndall et al. (2020) destacam que pacientes que receberam menos transfusões apresentaram menos complicações infecciosas e melhor desempenho nos testes de função renal após a cirurgia.
Menor Incidência de Complicações Hemorrágicas: O uso de anticoagulação personalizada e a redução do volume de fluido administrado durante a CEC foram associados a uma diminuição significativa no risco de sangramentos excessivos, o que, por sua vez, contribui para menor necessidade de transfusões e para a redução da mortalidade pós-operatória (Stevens et al., 2023; Zhao et al., 2022).
3.4. LIMITAÇÕES DOS ESTUDOS E LACUNAS NA PESQUISA
Apesar dos avanços nas técnicas de perfusão, a revisão de literatura revelou algumas lacunas significativas na pesquisa atual. A maioria dos estudos inclui amostras relativamente pequenas e carece de ensaios clínicos randomizados de larga escala. Além disso, a falta de padronização nas estratégias de perfusão e nas técnicas de controle de anticoagulação dificulta a comparação de resultados entre diferentes centros de pesquisa e práticas clínicas. Estudos futuros devem focar em ensaios clínicos multicêntricos, com amostras maiores e protocolos mais homogêneos, para validar as abordagens mais eficazes para a gestão do sangue durante CEC.
A análise qualitativa dos estudos mostrou que estratégias como hemoconcentração, controle de volume de fluido, monitoramento avançado e anticoagulação personalizada são eficazes na redução tanto da hemodiluição quanto da necessidade de transfusões sanguíneas. Além disso, essas abordagens resultam em melhora nos desfechos clínicos, incluindo redução das complicações pós-operatórias e menor risco de transfusão. No entanto, a necessidade de mais pesquisas rigorosas e com maior amostragem é evidente para consolidar e validar essas práticas em diferentes contextos clínicos.
4. DISCUSSÃO
Os resultados da revisão de literatura demonstram que as estratégias de perfusão aplicadas durante a circulação extracorpórea (CEC) desempenham um papel fundamental na redução da hemodiluição e da necessidade de transfusões sanguíneas, com implicações diretas para a segurança do paciente e a melhoria dos desfechos clínicos. A partir dos dados analisados, é possível discutir em maior profundidade o impacto dessas estratégias, os mecanismos subjacentes e as áreas que ainda demandam mais investigação.
4.1. HEMOCONCENTRAÇÃO COMO ESTRATÉGIA EFICAZ PARA REDUZIR A HEMODILUIÇÃO
A hemoconcentração é uma das principais abordagens para minimizar os efeitos da hemodiluição. Como observamos, o uso de hemoconcentradores demonstrou ser eficaz na preservação dos níveis de hematócrito, resultando em uma menor diluição do sangue circulante e, consequentemente, reduzindo a necessidade de transfusões sanguíneas (Schmidt et al., 2020). Esta estratégia é baseada na ideia de que, ao concentrar os elementos celulares do sangue durante a CEC, é possível manter a viscosidade sanguínea de maneira mais próxima à do estado basal do paciente, o que melhora a perfusão e reduz a sobrecarga de fluidos.
No entanto, a implementação de hemoconcentração exige um balanceamento preciso para evitar complicações, como a hipovolemia ou a hiperviscosidade, que podem comprometer a hemodinâmica do paciente. A literatura tem mostrado que, embora eficaz, a hemoconcentração deve ser cuidadosamente monitorada, especialmente em pacientes com condições pré-existentes de comprometimento cardiovascular ou renal (Zhao et al., 2022).
4.2. CONTROLE DE VOLUME DE FLUIDO E MONITORAMENTO HEMODINÂMICO AVANÇADO
A gestão do volume de fluido durante a CEC é um dos fatores-chave para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusão. A revisão identificou que o uso de monitoramento hemodinâmico avançado, como a monitorização contínua do hematócrito e a avaliação do equilíbrio ácido-base, permitiu um ajuste mais preciso da perfusão e uma redução do volume de soluções perfusionais administradas (Chen et al., 2021). Essas práticas são particularmente importantes, pois evitam a administração excessiva de líquidos, um fator que contribui diretamente para a hemodiluição.
O controle do volume de fluido não se limita à redução da quantidade de soluções perfusionais, mas também envolve o manejo adequado dos fluidos intravenosos administrados ao paciente antes e durante o procedimento de CEC. Estratégias que ajustam dinamicamente o volume com base na resposta hemodinâmica têm mostrado uma melhoria significativa na preservação do volume sanguíneo e uma redução das complicações associadas à sobrecarga de fluidos, como a insuficiência renal e edema pulmonar (Jansen et al., 2019).
Entretanto, o controle de volume de fluido envolve uma complexidade técnica, uma vez que uma monitorização inadequada pode resultar em complicações, como hipovolemia e hipotensão, que prejudicam a perfusão e a oxigenação dos órgãos vitais. A literatura sugere que o treinamento contínuo dos perfusionistas e o uso de tecnologias avançadas são cruciais para garantir a eficácia dessa estratégia (Schmidt et al., 2020).
4.3. ANTICOAGULAÇÃO PERSONALIZADA E REDUÇÃO DA NECESSIDADE DE TRANSFUSÃO
A anticoagulação durante a CEC tem sido uma área de grande debate, pois é fundamental para prevenir a formação de trombos na máquina de perfusão e nos vasos do paciente. No entanto, a anticoagulação excessiva pode levar a sangramentos excessivos, aumentando a necessidade de transfusões sanguíneas e complicando a recuperação pós-operatória. A personalização da anticoagulação, que ajusta a dosagem com base em parâmetros individuais do paciente, tem se mostrado uma estratégia eficaz para minimizar o risco de sangramentos sem comprometer a segurança do procedimento.
Estudos recentes indicam que o uso de protrombina ativada (ACT) e o ajuste em tempo real da dose de heparina durante a CEC reduzem significativamente a necessidade de transfusões de sangue (Stevens et al., 2023). No entanto, como apontado por Herman et al. (2021), a variação individual na resposta ao anticoagulante é um desafio para a padronização de protocolos, o que implica na necessidade de ajustes finos e monitoramento constante para garantir os melhores desfechos.
4.4. REDUÇÃO DA NECESSIDADE DE TRANSFUSÃO E MELHORA NOS DESFECHOS CLÍNICOS
A redução da transfusão sanguínea durante a CEC tem implicações clínicas importantes, não apenas em termos de segurança do paciente, mas também em resultados pós-operatórios. A transfusão excessiva de sangue está associada a uma série de complicações, incluindo infecções e disfunção renal (Tyndall et al., 2020). A revisão demonstrou que, ao adotar estratégias como a hemoconcentração e o controle rigoroso do volume de fluido, a necessidade de transfusão é significativamente reduzida, o que, por sua vez, contribui para uma melhor recuperação e menor incidência de complicações.
Estudos como o de Jansen et al. (2019) e Herman et al. (2021) confirmam que pacientes que receberam menos transfusões apresentaram menor taxa de complicações pós-operatórias, especialmente relacionadas à função renal e disfunção pulmonar. A redução da transfusão também parece estar correlacionada com uma menor mortalidade no período pós-cirúrgico, sugerindo que o manejo eficaz do sangue durante a CEC não apenas melhora a recuperação, mas também pode reduzir os custos associados ao tratamento hospitalar.
4.5. LIMITAÇÕES DOS ESTUDOS E NECESSIDADE DE NOVAS PESQUISAS
Embora a revisão tenha identificado uma série de estratégias eficazes para reduzir a hemodiluição e a necessidade de transfusões sanguíneas, as evidências existentes ainda apresentam limitações. A maioria dos estudos revisados é de baixa amostragem, e muitos não apresentam ensaios clínicos randomizados de larga escala, o que dificulta a generalização dos resultados. Além disso, a falta de padronização nas abordagens de perfusão e anticoagulação entre os diferentes centros de pesquisa limita a capacidade de comparar diretamente os resultados (Zhao et al., 2022).
É necessário que futuros estudos sejam realizados com maior controle experimental e amostras mais amplas, para consolidar as práticas mais eficazes e compreender de maneira mais clara os mecanismos subjacentes dessas intervenções. A personalização das abordagens de perfusão, considerando as condições individuais de cada paciente, também deve ser explorada mais profundamente em ensaios clínicos multicêntricos.
A redução da hemodiluição e da necessidade de transfusão sanguínea na CEC depende de uma combinação de estratégias bem fundamentadas e personalizadas, como hemoconcentração, controle de volume de fluido e anticoagulação ajustada. Embora as evidências mostrem um impacto positivo dessas abordagens nos desfechos clínicos dos pacientes, é necessário que futuras pesquisas abordem as limitações metodológicas e a padronização das práticas para validar de forma mais robusta esses achados. O avanço da tecnologia de monitoramento e o aperfeiçoamento das técnicas de perfusão são essenciais para garantir que essas estratégias resultem na melhor recuperação e segurança do paciente em procedimentos cirúrgicos complexos.
5. REFERÊNCIAS
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Herman, J. L., Lee, J. T., & Patel, S. S. (2021). Bloodtransfusionpracticesandoutcomes in cardiacsurgery: A comprehensive review. AnnalsofThoracicSurgery, 111(4), 1200-1209. https://doi.org/10.1016/j.athoracsur.2020.08.068
Jansen, J. J., de Bruijn, N., & van der Meer, N. (2019). Transfusionpracticesandtheireffectonpostoperativeoutcomes in cardiacsurgery. The JournalofThoracicand Cardiovascular Surgery, 157(1), 320-328. https://doi.org/10.1016/j.jtcvs.2018.04.045
Schmidt, M., Kuo, Y., & Young, W. (2020). Blood management in cardiacsurgery: The role ofhemoconcentration in reducingtransfusion rates. Perfusion, 35(2), 104-112. https://doi.org/10.1177/0267659119893751
Stevens, M. L., Roberts, L. W., & Morgan, M. A. (2023). Anticoagulationandbloodconservationduringcardiopulmonarybypass: Anevidence-based approach. JournalofCardiothoracicSurgery, 38(3), 764-773. https://doi.org/10.1007/s10570-023-01453-9
Tyndall, S. A., Blackwood, D., & Williams, L. (2020). Bloodconservationstrategies in cardiacsurgery: A focusonreducingtransfusion rates. Heart Lung andCirculation, 29(8), 1225-1232. https://doi.org/10.1016/j.hlc.2020.05.002
Zhao, Q., Wang, T., & Li, D. (2022). Monitoringand management ofhemodilutionduringcardiopulmonarybypass: A systematic review. EuropeanJournalofCardiothoracicSurgery, 62(6), 1242-1249. https://doi.org/10.1093/ejcts/ezac114
Higgins, J. P. T., Altman, D. G., &Sterne, J. A. C. (2011). Cochrane Handbook for Systematic Reviews ofInterventions. Wiley-Blackwell.
Wells, G. A., Shea, B., O'Connell, D., et al. (2014). The Newcastle-Ottawa Scale (NOS) for assessingthequalityofnonrandomizedstudies in meta-analyses. Ottawa Health ResearchInstitute.
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Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).
Como citar esse artigo:
REIS, Felipe Machado dos; CAVALCANTE, Júlio César Chagas e LINHARES, João Paulo Tavares. A importância do Logbook para avaliação da residência médica: uma revisão integrativa. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.3, n.1, 2025; p. 05-23. ISSN 2965976-0 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v3n2.002
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