Estava atravessando um momento difícil em minha vida quando a minha “crítica literária” mandou uma mensagem contendo um clip de uma música cujo o título é “Ostras Feridas” do Pr. Lucas, fiquei encantada com a melodia, com a perfeição das palavras. Fiquei por dias com o louvor na mente, pensando em como algumas pessoas são, realmente, como diz a letra da canção: quem as vê por fora não sabem a grandeza do seu interior.
As ostras são moluscos comestíveis e que quando feridas soltam uma substância chamada nácar que se cristaliza rapidamente formando uma pequena bolota rígida, a pérola que normalmente fica grudada na concha. Até o século XVII, não existia tecnologia para polir pedras preciosas, por isso as pérolas eram um dos maiores símbolos de riqueza e poder, as mais valiosas joias da época. A cor da pérola varia conforme a saúde da ostra; as mais comuns são rosa, creme, cinza e preta.
Realmente, algumas pessoas se assemelham a ostras na sua beleza escondida atrás de uma concha aparentemente sem vida. Não importando sua cor, cada uma é preciosa, algumas raras, magníficas, lapidadas pela dor, por situações adversas que lhe foram impostas; uma ostra que não foi ferida não produz pérolas, uma pessoa que não passou momentos difíceis não consegue alcançar o nível da pedra preciosa.
Parece estranho pensar desta forma, ter que sofrer para se tornar belo, precioso, mas assim como a ostra, ficamos fechados em uma concha e quando algo tenta nos agredir, nos ferir, vamos nos protegendo da melhor forma possível e assim vamos formando a pérola, algo que nem todos conseguem perceber, só quem está mais próximo, quem consegue abrir a concha e ver a grandeza escondida em seu interior.
Poderia falar de inúmeras circunstâncias que fazem uma pessoa soltar o seu “nácar” e formar as mais belas pérolas, se fosse falar de todas elas não daria um livro mas sim vários livros, histórias comoventes que lapidam, transformam, fazem aumentar o brilho.
Sou presidente de uma ONG e ouvi histórias que parecem impossíveis de ser verdade. Conheci pessoas que parecem tão frágeis, tão pequenas mas, como Davi, enfrentam um Golias todos os dias.
Vou usar alguns nomes fictícios para falar de algumas “ostras” que foram feridas e se tornaram pérolas preciosas notadas de longe por todos que as conhecem.
Ana era uma menina linda, franzina e ingênua, foi abusada quando criança, cresceu e tornou-se uma adolescente revoltada, fazia de tudo para demonstrar que se tornara forte, que ninguém mais a iria ferir. Mesmo ferida, ela aprendeu valores básicos para ser uma pessoa de bom caráter e, quando foi se tornando adulta, deixou de ser a ostra ferida e virou a mais bela pérola, estudiosa, batalhadora, esforçada, boa mãe, boa esposa, boa filha, caprichosa, bondosa, cheia de qualidades.
José foi ferido desde o ventre, depois de sua mãe ter tido três princípios de aborto involuntário durante a sua gestação. Ele foi tirado aos sete meses porque foi dado como um feto morto, seu coração não batia mais. Mas sua mãe orou a Deus e José “ressuscitou”. Logo estava forte, grande, parecia que não ia sobreviver ao nascer, ninguém acreditava que tinha nascido prematuro. Era inteligente, trabalhador, carinhoso, mas também tinha sido ferido, não só ao nascer, mas fora abandonado pelo pai aos dez meses de idade. Quando jovenzinho, envolveu-se com pessoas erradas e acabou entrando no mundo das drogas. A ostra estava muito ferida, foi preciso soltar muito nácar, mas o resultado foram pérolas de várias cores, virou um homem valoroso, grande pai de família.
Lucas nem chegou a conhecer o pai, fora registrado só no nome da mãe e, ao conhecer seu pai quando ainda menino ficou extremamente decepcionado, foi rejeitado mais uma vez, mas era tão amado por outra pessoa que nunca o abandonou, levando-o a ser como uma pérola. Embora com alguns problemas psicológicos causados pelos ferimentos da vida, ele casou-se, constituiu família e se esforçou para ser bem diferente de seu pai.
Sabrina era estudiosa, de boa índole, casou cedo, teve seus filhos, tudo estava bem, mas teve uma linda menina autista. Uma situação que pode parecer para muitos algo normal, mas não para uma mãe que passa noites em claro acompanhando a criança que trocou o horário do sono, esperando e orando todo o dia para que o filho evolua, que fale, que consiga acompanhar as outras crianças na escola, que não seja taxado de diferente. Ela foi ferida na sua alma, mas deu a volta por cima, lutou e conseguiu, a menina aprendeu a falar, embora tenha demorado um pouco, cada desafio vencido era uma pérola na vida de Sabrina... juntas, elas acumularam várias!
Joana foi ferida ao fazer uma ecografia gestacional e ver que o bebê que tanto esperava tinha macrocefalia comumente chamado de “cabeça grande, ou cabeça d'água”, sofreu, chorou os nove meses esperando que o bebezinho nascesse e ficasse bem. E ele nasceu, mas não sobreviveu. Quanta dor, que ferimento grave nesta ostra. Mas sem saber de onde tirou forças, virou uma pérola muito preciosa, todos viam seu esplendor.
Poderia contar muito mais histórias reais de ostras feridas, conheço muitas, mas o que quero não é ressaltar o sofrimento e sim demonstrar que a dor não pode nos parar, não devemos permitir que, ao sermos feridos, nos tornemos amargos, apagados, tristes. Vamos nos proteger do ferimento largando o nácar que forma pérolas.
Amo escrever e poderia escrever vários livros baseados em fatos reais contando as mais diversas histórias, alegres, tristes, de amor, dramas, policiais e até mesmo de terror (contadas por pessoas mais velhas que possuem muitas histórias de “assombração”).
Mas o que me chamou atenção na música “ Ostras Feridas” foi a revelação que tive, que embora já soubesse nunca tinha parado para pensar nisto: ostras que não foram feridas não produzem pérolas. Profundo e verdadeiro... a maioria das pessoas maravilhosas que conheço foram feridas de alguma forma. Algumas imensamente feridas e que nunca perderam a fé, que não se deixaram abater, que tiraram forças não se sabe de onde. Pessoas que foram abusadas, que tiveram doenças graves, que foram rejeitadas, que sofreram discriminação, que tiveram perdas irreparáveis, e que precisam contar a sua história para que outros aprendam a sobreviver e a vencer em meio as tempestades da vida.
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Pessoas feridas que aprenderam a ser pérolas, exalam uma paz, estão sempre com um sorriso no rosto, estendem a mão a quem precisar. A capacidade que alguns seres humanos têm de dar a volta por cima é incrível, inexplicável, uma força que é visível que só pode vir de uma força maior chamada Deus.
Poderíamos escrever um livro o qual se chamaria “histórias de vida”, nele poderíamos descrever inúmeras pérolas, delicadas aparentemente, mas saídas da mais profunda ostra ferida. Pais que antes choravam por não ter o que dar de comer a seus filhos e depois de se tornaram importantes empresários; mães que viram a noite trabalhando para criar crianças que passam a ser responsabilidade exclusiva delas por ter cometido o erro de se encantar por alguém que parecia um príncipe, mas era um sapo, e acabam se tornando exemplo para os filhos que cresceram e viraram pessoas bem realizadas; crianças cheias de sonhos que devido ao meio em que viveram são discriminadas, pensaram não ser capazes e, quando menos se esperava, tornaram-se advogados, médicos, artistas, etc.
É assim que funciona realmente, ostras feridas podem se transformar em pérolas. Algumas não conseguem chegar a esse nível, tem ostras que não produzem pérolas, ao invés disso são vazias, carregando dentro de si a escuridão.
Nos dois livros A Fazenda das Borboletas, de minha autoria, há algumas pérolas que surgiram de ostras feridas. A personagem Ana Carmela nasceu em boa situação, amada pelos pais e por todos que a cercavam, cheia de sonhos, mas foi ferida por algumas situações; a personagem Mariana teve vários ferimentos; Casemiro se viu sozinho ao perder a esposa e ficar com sua filha autista. Na continuação do romance, existem outras ostras feridas que jogam seu nácar a todo momento, lutando para virarem as mais belas pérolas, algumas situações bem complicadas de se resolverem.
Quero muito que você leia o romance A Fazenda das Borboletas da Editora UNISV e que me dê sua opinião. O livro é fictício, mas algumas partes se basearam em situações, lugares e personagens reais. São José do Norte, o local onde se passa o romance, é a terra em que nasci, uma cidade pequena, de pessoas humildes e verdadeiras ao sul do Brasil. Dos casarões antigos, travessia de lancha para Rio Grande, muitas coisas continuam iguais ao meu romance de época.
Também sou uma ostra que já foi ferida, batalhei muito para alcançar meus objetivos, ainda enfrento gigantes todos os dias, continuo largando meu nácar para ver se consigo formar pérolas por meio de minha escrita e atuação social. O nácar que jogo é suave, faço todos os dias uma oração à Deus pedindo que me fortaleça nas batalhas da vida, que perdoe os meus erros, que me capacite e que me dê sabedoria em todas as áreas da minha vida. Uma das formas de saber se estou conseguindo produzir pérolas é ouvindo as opiniões sinceras sobre o meu trabalho, meus livros, meus artigos. Se você está gostando dessa leitura, se de alguma forma se identifica com ela ou ela está impactando sua vida, não esqueça de compartilhar com seus amigos e redes sociais. Deixa também o seu comentário no campo abaixo do artigo. Ficarei muito feliz em responder você.
Agradeço a Deus, a minha filha, meu esposo, minha família, a minha crítica literária e aos meus queridos leitores, que me motivam a escrever. Também ao meu editor, Jociandre Barbosa, que acreditou no meu trabalho; a toda equipe da Editora UNISV, a minha prima Estela Maris, que também é escritora e me indicou a editora, a todos que contribuíram para fazer o que mais gosto que é escrever, contar histórias. Quando pensei em escrever, resolvi escrever algo que realmente me satisfaz, a fantasia, o romance, a leveza de uma história de época, que traga doçura, encantamento, que tire os leitores de suas ostras, que lhe mostrem que ao entrar na Fazenda das Borboletas se sentirão como pérolas. Algumas pessoas que não gostam de ler adquiriram um livro por serem meus conhecidos, começaram a ler e foram até o final, disseram que conseguiram relaxar, esquecer um pouco os problemas, que sentiram como se realmente estivessem na fazenda. Me senti muito feliz ao ouvir tais comentários, porque a intenção foi mesmo essa, que as pessoas ao leram o romance, deixassem, mesmo que fosse por um momento, de serem ostras feridas.
Este ano foi um ano diferente por causa desta pandemia, muitas ostras foram feridas, mas contudo sobraram pérolas maravilhosas que se mostram a cada dia e, com certeza, no próximo ano ou em breve, mostrarão sua verdadeira essência, seu valor interior imenso.
Se você foi ferido hoje e pensa que não terá um bom amanhã se engana. “Quem te vê por fora não tem ideia do tamanho que você é por dentro, não sabe a grandeza da história que Deus está escrevendo”, (trecho da música Ostras Feridas). Não se preocupe, “ostras que não foram feridas não produzem pérolas”.
Tania Costa
Capão da Canoa, 18/11/2020
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