DISCOURSE ANALYSIS IN THE POEM VERSOS ÍNTIMOS OF AUGUSTOS DOS ANJOS
Como citar esse artigo:
CIRQUEIRA, Tayson Silva; AQUINO, Edailze Pelutti de; SILVA Renan Costa. Análise do discurso no poema versos íntimos de Augustos dos Anjos. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 563-576. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.034
Autores:
Tayson Silva Cirqueira
ORCID: https://orcid.org/0009-0004-1600-5874 | Formado em Licenciatura em Letra-Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Especialista em Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, Literatura e Artes pela Faculdade Venda Nova do Imigrante. – Contato: tayson3@live.com
Edailze Pelutti de Aquino
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0954-0980 | Psicopedagoga pela Faculdade Sinop – Fasip. - Contato: Daiasophia33@gmail.com
Renan Costa Silva
ORCID: https://orcid.org/0009-0001-4900-8332 | Pós-Graduado em Metodologia do Ensino de História e Geografia pela INTERVALE. - Contato: nanerrenan123@outlook.com
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RESUMO
Neste trabalho de cunho bibliográfico analisaremos a obra Versos Íntimos de Augustos dos Anjos. O autor é conhecido por seu pessimismo trágico em suas obras carregadas de pessimismo, melancolia, inclinação pela morte entre outros. Os conceitos de dor e sofrimento são evidentes em “versos íntimos”, tais conceitos auxiliam na analítica do poema. Assim, colaborando para que haja um bom diálogo entre uma possível interpretação para o texto e respaldo científico será necessário recorre a Análise do Discurso, ramo da linguística que se preocupa em analisar o enunciado levando em conta todos os aspectos envolvidos como sociais, culturais e ideológico entre outros. Este artigo busca analisar o poema assim como sua carga emocional no que se diz, uma vez que o texto é uma representação culturalmente construída do contexto de uma realidade e não uma cópia exata. Interpretar é analisar o que está explícito e implícito é importante para interpretações e conclusões sobre o texto.
Palavras-chave: Veros Íntimos; Augustos dos anjos; Análise do discurso; Interpretar.
ABSTRACT
This article aims to investigate the interrelation between History and Literature, specifically through the analysis of the poem "Farewell to the Seven Falls" by Carlos Drummond de Andrade. The objective is to understand how literary production can narrate and express historical events, using as a case study the disappearance of the Seven Falls set on the Paraná River due to the construction of the Itaipu Hydroelectric Power Plant. To achieve this goal, we employ an analytical approach, examining Drummond de Andrade's poem in relation to the historical context of the construction of the Itaipu Hydroelectric Power Plant and the disappearance of the Seven Falls. We use methods of literary analysis to understand how the author uses poetic language to represent this historical event and express his feelings on the subject. Additionally, we conduct a literature review to theoretically contextualize the relationship between History and Literature. This study is relevant because it contributes to a deeper understanding of the intersection between History and Literature, highlighting how literary narrative can be a powerful way to represent historical events and convey cultural and emotional meanings. Moreover, by analyzing a specific poem about a significant historical event, we can explore issues of memory, identity, and cultural heritage.
Keywords: History and Literature; Carlos Drummond de Andrade; Farewell to the Seven Falls; Itaipu Hydroelectric Power Plant.
1. INTRODUÇÃO
Analisar uma poesia possui um grande caráter educativo principalmente para a formação crítico-reflexiva para aqueles que leem. No ato da leitura podemos nos deparar com diversas formas de culturas semelhantes ou alheias a nó, além de nos possibilitarem um sentimento de prazer ao apreciar de forma crítica os valores oferecidos no texto.
As poesias são repletas de sensibilidades e possuem interpretações intuitivas, sem deixar seu lado estético de lado não se prendendo a realidade concreta. Para uma boa análise de um texto desse gênero podemos fazer uso da Análise do Discurso. Essa modalidade linguística e comunicativa se pauta em investigar o uso das línguas naturais e a forma como o discurso é construído dentro de um texto. Os textos do poeta Augustos dos Anjos possuem uma característica peculiar, além de terem temáticas ligadas ao pessimismo e a melancolia também apresentam predileção por vocábulos ligados a ciência tornando-o um autor peculiar para análise do discurso, principalmente no poema Versos Íntimos escrito por ele.
Este trabalho se limita a analisar o poema Versos Íntimos de Augustos dos Anjos fazendo um entrelaçamento de ideias com o ramo da linguística que se preocupa em analisar o discurso. Segundo Foucault (2012) o discurso é uma representação culturalmente construída pela realidade em que vive o sujeito. Uma vez que a literatura e análise do discurso são passíveis de interpretações, qual seria uma interpretação possível para a poesia Versos Íntimos de Augustos dos Anjos?
Acreditamos que o autor seja um grande marco para a poesia do seu tempo, pois apresenta características divergentes aos demais. Na obra analisada neste trabalho é possível que nos deparemos com inclinações do eu lírico com a morte; influência do parnasianismo e simbolismo e amor retratado com ceticismo.
Portanto este trabalho tem como objetivo principal analisar o poema Versos Íntimo de Augustos de Anjos por meio da análise do discurso. Este se desdobra em outros objetivos como: descrever as características da poesia; analisar a relação entre discurso e vida do autor; constatar a importância da ciência da análise do discurso para a interpretação do texto.
Este trabalho possui grande importância para o conhecimento, uma vez que procura trazer esclarecimentos sobre a construção do discurso e seu caráter social e ideológico no poema Versos Íntimos, dado que a sociedade promove o contexto do que é discursado em sua situação elaborada carregada de significações. Nenhum estudo é definitivo, sendo assim este artigo pode ser um dos pontos de partida para diversas outras pesquisas que complementem de forma mais ampla esta temática.
Nesta pesquisa é de cunho bibliográfico qualitativa que de acordo com Kaplan & Duchon (1988) é a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa. Primeiramente falaremos sobre a Análise do Discurso, em seguida abordaremos algumas características de vida e obra de Augustos dos Anjos e especificamente o poema Versos Íntimos na última parte deste trabalho.
2. ANÁLISE DO DISCURSO
Todos nós fazemos algum tipo de julgamento em determinado momento da vida, seja na vida pessoal, no trabalho e até mesmo nas artes escritas, como seres pensantes somos formadores de opinião que se desenvolvem ao longo da vida. Além de ciências que buscam compreender o comportamento humano também temos estudos que buscam analisar um enunciado seja visual ou escrito, temos a análise do discurso.
A análise do discurso procura entender como determinado texto, foto, pintura entre outros, estes sem dúvida são produzidos para trazer tipos de significações assim como nos trazer algumas realidades e suas “bagagens”. De acordo com Maingueneau (2005) o discurso opera em outros discursos, ou seja, eles possuem uma relação de ligação, O sujeito é um espaço cindido por discursos e a língua um processo semântico e histórico permitindo definir como um espaço de regularidades enunciativas. Sobre a palavra discurso, que compõe o nome da ciência, ela significa toda situação em que haja comunicação dentro de uma situação ou contexto relacionada a quem fala, para quem fala e sobre o que fala. Segundo Boone e Joly (1996) o discurso um espaço do observável e a língua, um lugar para uma nova formação teórica que obedece a um movimento natural e espontâneo do pensamento, os efeitos de sentido nada mais são do que o resultado dos valores atribuídos pelo discurso ao significado em língua.
Esta análise do que se diz nos esclarece como funciona a língua, pois o sujeito sempre interpreta aquilo que faz. Quando interpretamos o sujeito leva em conta um apanhado de ideologias e ilusão de que tudo é transparente, literal, evidente e que temos acesso direto ao sentido completo daquilo que está sendo dito por meio de seus mecanismos de interpretação. Sendo assim o discurso e sua análise podem ser vistos como uma prática natural e social, conforme nos apresenta Fairclough (2001) ao entender que essa prática pode ser transformadora e mostrar diferentes realidades sociais e o sujeito da linguagem, do ponto de vista psicossocial, vai se moldando e construindo sua ideologia linguística e transformando suas próprias práticas discursivas ressignificando e reconfigurando. Assim a língua é uma ação natural dialética que adapta e molda a sociedade. Para reforçarmos mais ainda essa ideia podemos recorrer a Fairclough (2001) ao entender que o discurso é uma prática social reprodutora e transformadora de realidades sociais.
Então podemos notar a importância dos sentidos da análise do discurso, para Pêcheux (1990), o sujeito é um conjunto de ideologias com determinadores valores, sem vontade própria, e a língua é um processo que perpassa as diversas esferas da sociedade, sendo assim o discurso é uma forma de materialização ideológica. A história contada não é simplesmente uma cronologia que pode ser descrita, ela é muito mais, pois elas também contam com uma relação de poder, em outras palavras ao interpretarmos não adianta apenas rastrear dados históricos em um texto, é preciso entender de que forma este produz seu próprio sentido levando em conta essas relações com o poder.
Durante a formação da disciplina análise do discurso, em específico na primeira fase, se dedicava em analisar textos mais estabilizados, ou seja, aqueles que causavam menos polêmicas, trazendo menos variações de sentidos. Segundo Mussalim (2004), são discursos produzidos a partir de condições de produção mais estáveis e homogêneas. Nesta fase ou conceito chamado de Máquina Discursiva é fechada em si mesmo, porém já apresentava vários processos discursivos. O segundo conceito, ou fase, foi titulada como Formação Discursiva é um “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma área social, econômica, geográfica ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa” (FOUCAULT: 1969). Já na terceira fase de acordo com Charaudeau e Maingueneau (2004) o discurso tem interdisciplinaridade, a fase Interdiscurso acontece por meio de uma articulação contraditória de composições discursivas que se referem a formações ideológicas antagônicas.
O que é um anunciado? A definição é importante para interpretarmos o poema neste trabalho. O enunciado é uma unidade real da comunicação verbal, onde podemos encontrar formas variadas da expressividade linguística. Foucault (1997) também nos traz reflexão sobre os enunciados, segundo ele o enunciado pertence a uma formação discursiva, como uma frase pertence a um texto, e uma proposição a um conjunto dedutivo.
Por fim, sobre o conceito de análise do discurso, podemos afirmar que Foucault (2012) foi um dos pioneiros da análise do discurso por meio da sua Arqueologia do Saber que estava voltada em mostrar a problematização do discurso e de seu crescimento no âmbito do campo da formação do conhecimento e das ciências humanas. Portanto a análise do discurso é um campo da linguística que trabalha a área da comunicação e analisa a estrutura de um texto e suas construções ideológicas. O discurso é formado por uma construção linguística sempre relacionada ao contexto social do texto desenvolvido, sendo assim as ideologias são formadas a partir do contexto político e social do emissor, em resumo é uma análise contextual da estrutura do que se diz.
3. AUGUSTOS DOS ANJOS
Augustos do Anjos nasceu em Pau D’Arcos na Paraíba em 20 de abril de 1884. Filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de carvalho Rodrigues dos Anjos. Em 1900 escreveu seu primeiro soneto “Saudade” ao ingressar na instituição Liceu Paraibano. Em seguida entrou na faculdade de direito em Recife em 1903 e voltou para João Pessoa em 1907 momento em que retornou a lecionar. Se casou em 1910 com Ester Fialho e depois mudou-se para o Rio de Janeiro. Durante a vida, Augusto publicou vários poemas em jornais e periódicos quando em 1912 publicou “Eu” seu único livro de poesias. Sem dúvida foi um dos grandes poetas de sua época no período do pré-modernismo. Mudou-se para Minas Gerais, após algum tempo pegou uma forte gripe causando uma pneumonia que levou a morte em 1914.
A poesia de Augustos dos Anjos vai além do convencional, ela é mesclada com filosofia, psicologia e ciência. O autor ficou famoso como poeta do pessimismo e da tragédia fazendo um entrelaçamento com trechos sombrios em suas obras. Procurou no pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer a concepção de aniquilamento da vontade como caminho para o livramento da dor e do sofrimento. Deste modo, sob a influência do filósofo alemão, a poesia de Augusto dos Anjos é repleta de dor e pessimismo, o que causou um grande mal-estar na época em que vivia, pois fugia às normas utilizadas no período (VASCONSELOS, p. 9-10).
Augustos dos Anjos durante o período pré-modernista compôs suas obras com traços de pensamentos científicos e filosóficos repletos de metáforas que resultam em uma ruptura semântica fazendo com que o autor pudesse ser visto como diferente dos demais e por vezes provocador ou antilírico. De acordo com Helena (1977) a modernidade do poeta revelou-se por meio daquilo que não era compreendido. Em relação ao campo de sua poesia contêm um léxico repudiado pela estética do “belo”. O vigor de sua linguagem apresenta-se pela necessidade de ‘horroroso’ que é talvez propriedade do carbono.
A época mencionada no parágrafo anterior é o pré-modernismo que inicia em 1902 e vai até a Semana da Arte Moderna, esse período literário pode ser considerado de transição marcada por diversas tendências de autores com características heterogêneas entre si, além de conter traços de do parnasianismo e simbolismo. O mundo vivia uma fase de importantes descobertas cientificas, mas isso não significa que o Brasil era próspero economicamente, a miséria era muito evidente na sociedade. Diversos autores estavam tendendo a escrever sobre o regionalismo e suas características populares. Portanto Augustos, diferente dos demais, pois segundo Anjos (1966) o que se visualiza das características da época pré-modernista na obra que estamos tratando é uma confluência de vários estilos e tendências e a presença de elementos do Cientificismo e Evolucionismo.
Sendo assim ele apresentava características contrárias, pois era simbolistas com traços de racionalidade, por vezes romântico com elementos realistas “Augusto são românticos hugoanos, nem todos, na verdade apenas alguns, o que não é suficiente para enquadrá-lo no romantismo. Seus decassílabos são construídos de maneira parnasiana”. Mas sua morbidez egoística é exatamente oposta à salutar impessoalidade parnasiana. Tampouco a palavra cientificista é suficiente para explicar Augusto, uma vez que ele insinua todos os sentimentos, e sua poesia é doada de uma subjetividade filosófica (MIRANDA, 1995, p. 260).
Pessimista a poesia de Augusto dos Anjos é marcada pela tristeza profunda e questionamentos existenciais influenciadas pela Teoria da Evolução que traz de forma frequente o destino inevitável de todos nós, a morte. A decomposição da matéria aparece de forma implícita no poema que será analisado a seguir A construção dos versos geralmente é composto por hipérboles que é uma figura de linguagem definida pelo uso exagerado naquilo que se fala. A vida segundo para o poeta segundo Vasconselos (1996) pode ser resumida em sofrimento e tédio além das inquietações sobre o destino do homem e foi com esta visão negativista e pessimista que a poética de Augusto dos Anjos assomou e transpôs as décadas.
4. INTERPRETAÇÃO DO POEMA VERSOS ÍNTIMOS DE AUGUSTOS DOS ANJOS POR MEIO DA ANÁLISE DO DISCURSO
O poema Versos Íntimos foi escrito por Augusto dos Anjos no período pré-modernista brasileiro, esse período foi marcado por diversas características que foram agrupadas nas obras. Por não ter um conjunto próprio essa escola foi considerada um período de transição assim como o autor que aborda problemas sociais brasileiros como a desigualdade, conflitos, pobreza, exclusão social e política.
Levando em conta o período devemos levar em conta toda bagagem cultural envolvida nele, pois segundo Orlandi (2002) a análise do discurso vai articular o mundo linguístico com o sócio-histórico ideológico, colocando a linguagem na relação com os modos de produção social, pois não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. O poema versos íntimos a seguir destaca a falta de confiança que o eu lírico tem rem relação ao amor destruindo os sonhos de quem acredita. Em muitos poemas do renomeado autor podemos observar os destaques das relações amorosas, ou não, entre os homens.
Versos íntimos
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)
Vamos iniciar nossa análise partindo do título, este nos remete a uma interpretação romântica subjetiva e sentimental, porém se revela durante os enunciados uma verdadeira desaprovação para com os sentimentos, o que não nos causa estranhamento, uma vez que a obra pode representar uma extensão da vida do autor e suas ideologias. Por vezes desoladoras, o autor o destaca a vil e sórdido da condição humana. Na primeira estrofe o autor nos faz refletir sobre a existência ao relatar que a vida é um engano. É um episódio que perturba inutilmente o bem-estar e o repouso do nada. Até mesmo aquele que crê que a existência é suportável, começa a tomar consciência da fraude com o passar dos anos (Schopenhauer, 2014, p. 27). O poema é construído em cima de proposições e imperativos se dirigindo a um locutor imaginário afirmando que a ingratidão, que por sinal é escrita com letra maiúscula, é sua fiel companheira. O uso da letra maiúsculo pode representar a personificação do sentimento, mas não podemos afirmar com toda propriedade uma vez que todo enunciado é capaz de se tornar diversos outros, conforme relata Pêcheux (1997), ele afirma que o enunciado pode derivar para um outro, pois todo enunciado ou sequência de enunciados é, pois, linguisticamente descritível como uma série de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar a interpretação para demais leitores.
Na segunda estrofe a palavra homem também está grafada com inicial maiúscula, que pode representar não somente uma única pessoa, mas sim um conjunto delas, sendo uma estratégia já usada anteriormente para relatar sua dor existencial podemos recorrer a Foucault (2012) que deixa bem claro, que o enunciado é sempre o acontecimento em que seu sentido não se esgota inteiramente, ele está sempre aberto a repetições e transmissões. Em relação a poesia podemos levar isso pelo lado morfológico e semântico também, pois o discurso nunca é fechado com uma única representação.
Para Foucault (2012), a análise do campo discursivo trata-se de compreender o enunciado na sua situação de acontecimentos e é a dor me move os textos de Augustos dos Anjos e se sentimento de solidão e a previsível ingratidão, podemos notar no trecho “Acostuma-te à lama que te espera!” Não há razão alguma de ser no mundo se nossa existência não tiver por fim imediato a dor. Não podemos afirmar que a dor sem fim seja apenas um puro acidente e não o próprio fim. As desgraças particulares podem parecer uma exceção, mas a desgraça geral é uma regra (SCHOPENHAUER, 2014, p. 25).
Foucault (2012) deixava claro que a língua é constituída por um sistema de enunciados, a terceira e quarta estrofes fecham diversos argumentos a respeito do poema, pois o eu lírico utiliza o verbo no imperativo para defender a sua teoria que todos nós seres humanos não somos nada confiáveis e o autor chega a nos comparar com animais ao afirmar que deveríamos atacar antes de sermos atacados.
Em alguns momentos de Versos Íntimos a morte surge como uma manifestação inevitável do destino do ser humano, Bueno (1994) enxerga isso como uma implacável presença da maior das evidências da vida e do universo, destruidora paciente e impiedosa de todos os esforços e devaneios humanos. O que foi dito confirma o caráter cinético presentes nas obras do autor, além disso Lúcia Helena (1977) reforça a ideia afirmando que o cientificismo que aparece na obra de Augusto dos Anjos não é usado num contexto técnico, como ocorria no seu surgimento, durante o Naturalismo, mas passa de forma conotativa a denunciar a ciência transviada.
Além disso as relações entre os discursos não estão ligadas unicamente a conceitos e palavras, muito mais que isso, eles são externos pois são as situações de fora que movimentam os enunciados, elo contrário, elas determinam o feixe de relações que o discurso deve efetuar para poder discorrer sobre certos objetos, para poder trabalhar, nomear, analisar, classificar, explicar, etc. (LECOURT,1980, p. 91). Podemos complementar com Foucault (1997) ao dizer que a históricas sempre serão determinadas no tempo espaço, que definiram em uma dada época, e para uma área social, econômica, geográfica, ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa. Sendo assim, no próximo paragrafo faremos um resumo básico sobre o que foi enunciado no poema Versos Íntimos.
A obra apresenta em vários trechos elementos fúnebres diretamente ligadas a dor existencial e da inevitabilidade da morte que nos aguardar como também da ingratidão do amor que não é recíproco. As palavras agressivas podem ter como objetivo causar um espanto ao leitor que espera, a partir do título, algo mais romântico e suave, porém recebemos uma série de simbologias. De acordo com Pignatari (2004), o signo e algo que substitui uma coisa para certos efeitos como se apresenta a morte ligada a ingratidão. A partir do segundo quarteto, o autor inicia a corroborar a ideia de niilismo exacerbado, a palavra “lama” também se apresenta diretamente ligada à morte.
Em alguns fragmentos podemos interpretar da seguinte forma: por meio de uma vasta simbologia em certas palavras, como “cigarro”, “escarro”, “apedreja” notamos elementos depressivos e científicos, o cigarro geralmente é usado por pessoas viciadas que o utilizam para se acalmar quando estão com certo nível de ansiedade, já a palavra apedrejar pode representar o julgamento ou pena mais severa pelo crime cometido e por fim o escarro pode representar o sentimento de nojo ou repulsa.
Devemos nos aceitar a morte e não perder tempo com romances, é o que afirma o autor, porém em alguns trechos nos levam a acreditar no possível sentimento de vingança ou raiva contra alguma pessoa, que podem pertencer a vida do autor ou mesmo daqueles que leem o poema. O que pode significar escarrar na mesma boca que foi beijada? essa afirmação mostra a ideia de niilismo e irmos de contra a uma perda tempo com algumas coisas, sendo que podemos ser magoados ou abandonados por pessoas que amamos.
5. CONCLUSÃO
Constatamos que a análise do discurso possui grande importância na análise de textos, pois nos possibilita ler o que está implícito e explicito e também notarmos que o discurso não se justifica por si mesmo, uma vez que eles aparecem dentro de um campo enunciativo no qual são construídos para se dizer algo.
A poesia Versos Íntimos de augustos do Anjos é composta por palavras de cunho científico, pessimista e materialista. Dor e sofrimento compõe os versos escritos pelo autor trazem à tona todo o pessimismo trágico e a concepção de felicidade negativa presentes no poema. Deste modo, efetivando um diálogo produtivo entre Filosofia e Literatura. Isto porque o processo de enunciação do discurso tem como resultado uma série de afinidades que dão sentido a certos objetos. Não há enunciado sem a formação de objeto, como também não há objetos sem uma relação direta com o que se diz.
Este trabalho analisou o poema Versos Íntimos de Augustos dos Anjos com auxílio de Foucault (2012) e demais autores que nos afirmaram que o discurso é uma representação culturalmente construída pela realidade em que vive o sujeito, desta forma concluímos que o pessimismo e morbidez mora na poesia aqui analisada e refletem sua própria experiencia de vice. O autor foi sem dúvida um grande artista para seu tempo, pois agregou diferentes pontos de vista comparado aos demais. Na obra analisada neste trabalho é possível que nos deparemos com inclinações do eu lírico com a morte possível influência do parnasianismo e simbolismo com uma ideia de amor corrompida retratado com níveis de ceticismo.
Portanto este trabalho analisou o poema Versos Íntimo de Augustos de Anjos por meio da análise do discurso com este autor que é considerado um dos mais intrigantes da sua época. A obra expressa a angústia e a morbidez do homem que se vê incapaz de enfrentar o destino certo a todos os seres vivos que a chegada da morte. A obra por vezes parece ser um conselho ou um alerta ao leitor, com tentativa de convencê-lo a não acreditar no amor romantizado e idealidade que víamos nos períodos literários anteriores.
6. REFERÊNCIAS
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LECOURT, Dominique. Para uma crítica epistemológica. Lisboa. Assírio & Alvim Editores, 1980.
MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. Curitiba: Criar, 2005.
MIRANDA, Ana. A última quimera. São Paulo: Cia das Letras, 1995
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. 4. ed. Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2004. v. 2.
ORLANDI, E. A análise de discurso e seus entremeios: notas para a sua história no Brasil. Caderno de Estudos Lingüísticos (42), Campinas: Jan./Jun.
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CIRQUEIRA, Tayson Silva; AQUINO, Edailze Pelutti de; SILVA Renan Costa. Análise do discurso no poema versos íntimos de Augustos dos Anjos. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 563-576. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.034
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