ANÁLISE COMPARATIVA DE SUPLEMENTOS DE COENZIMA Q10 ADQUIRIDOS PELA INTERNET: COMPOSIÇÃO, DOSAGEM E QUALIDADE NUTRICIONAL
- Sônia Regina Nunes Lima
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Atualizado: há 1 dia
COMPARATIVE ANALYSIS OF COENZYME Q10 SUPPLEMENTS PURCHASED ONLINE: COMPOSITION, DOSAGE AND NUTRITIONAL QUALITY
Informações Básicas
Revista Qualyacademics v.3, n.2
ISSN: 2965976-0
Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).
Recebido em: 03/06/2025
Aceito em: 03/06/2025
Revisado em: 04/06/2025
Processado em: 04/06/2025
Publicado em: 05/06/2025
Categoria: Estudo Experimental
Como citar esse material:
LIMA, Sônia Regina Nunes; D’AFONSECA, Matheus Kaique Oliveira Lacerda; GUIMARÃES; Fernando Santos; TEIXEIRA, Tâmara Alves; SILVA, Elaine Jesus da. Análise comparativa de suplementos de coenzima Q10 adquiridos pela internet: composição, dosagem e qualidade nutricional. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.3, n.1, 2025; p. 94-107. ISSN 2965976-0 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v3n2.005
Autores:
Sônia Regina Nunes Lima
Graduanda em Farmácia. Universidade Salvador – UNIFACS. Contato: E-mail: sonialima25@yahoo.com.br
Matheus Kaique Oliveira Lacerda D’Afonseca
Graduando em Farmácia. Universidade Salvador – UNIFACS. Contato: E-mail: matheuskaiquecontato@gmail.com
Fernando Santos Guimarães
Graduando em Farmácia. Universidade Salvador – UNIFACS. Contato: E-mail: fernandofarma.dr@gmail.com
Tâmara Alves Teixeira
Graduanda em Farmácia. Universidade Salvador – UNIFACS. Contato: E-mail: niinialves@hotmail.com
Elaine Jesus da Silva
Graduanda em Farmácia. Universidade Salvador – UNIFACS. Contato: E-mail: elainejorro@gmail.com
Baixe o artigo completo em PDF
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de suplementos de coenzima Q10 (CoQ10) comercializados pela internet, considerando sua composição, dosagem e conformidade com as informações nutricionais declaradas nos rótulos. Justifica-se pela crescente demanda por esses suplementos como alternativas terapêuticas e pela ausência de controle rigoroso na produção e rotulagem desses produtos, especialmente em vendas online. A metodologia adotada consistiu em uma pesquisa experimental exploratória com duas amostras de cápsulas duras de CoQ10 adquiridas em plataformas digitais, analisadas por meio de testes físico-químicos, incluindo determinação de peso médio, teor de princípio ativo por espectrofotometria e análise de rotulagem conforme normas da ANVISA. Os resultados revelaram discrepâncias significativas entre os valores rotulados e os teores reais de CoQ10, com ambas as amostras apresentando quantidades inferiores às declaradas, o que compromete sua eficácia e segurança. Além disso, foram identificadas falhas nas informações de rotulagem, como dosagens inconsistentes e ausência de dados obrigatórios, evidenciando a necessidade de maior fiscalização sanitária e conscientização dos consumidores sobre a escolha de suplementos alimentares seguros e eficazes.
Palavras-chave: Coenzimaq10; Suplementação nutricional; Dosagem; Valores
nutricionais.
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the quality of coenzyme Q10 (CoQ10) supplements sold online, considering their composition, dosage, and compliance with the nutritional information declared on the labels. The research is justified by the growing demand for these supplements as therapeutic alternatives and the lack of strict control in their production and labeling, especially in online sales. The methodology adopted consisted of an exploratory experimental study with two samples of CoQ10 hard capsules purchased from digital platforms, analyzed through physicochemical tests, including determination of average weight, active ingredient content via spectrophotometry, and label analysis in accordance with ANVISA regulations. The results revealed significant discrepancies between the labeled values and the actual CoQ10 content, with both samples presenting lower quantities than declared, compromising their efficacy and safety. Furthermore, labeling issues were identified, such as inconsistent dosages and the absence of mandatory information, highlighting the need for stricter sanitary oversight and greater consumer awareness regarding the selection of safe and effective dietary supplements.
Keywords: Coenzyme Q10; Nutritional supplementation; Dosage; Nutritional values.
1. INTRODUÇÃO
A coenzima Q10 (CoQ10), também denominada ubiquinona, é uma substância lipossolúvel de natureza quinônica, indispensável ao funcionamento adequado do metabolismo celular. Presente em praticamente todas as células do organismo humano, sua maior concentração encontra-se nas mitocôndrias, onde desempenha um papel central na cadeia de transporte de elétrons, contribuindo decisivamente para a síntese de ATP – a principal fonte de energia celular. Além de sua função bioenergética, a CoQ10 também exerce importante atividade antioxidante, sendo essencial para a proteção das estruturas lipídicas das membranas celulares contra os danos causados pelo estresse oxidativo.
Durante os processos bioquímicos mitocondriais e em reações enzimáticas extracelulares, a CoQ10 sofre uma conversão reversível de sua forma oxidada (ubiquinona) para sua forma reduzida (ubiquinol). Esta forma reduzida apresenta potente ação antioxidante, neutralizando radicais livres e preservando a integridade das células diante de agressões oxidativas endógenas e exógenas. Devido a essas propriedades, a ubiquinona tem sido amplamente estudada não apenas em sua função fisiológica, mas também como agente terapêutico em diversas patologias associadas ao estresse oxidativo, como doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e processos de envelhecimento celular (Knott et al., 2015).
Figura 1: Estados de oxidação da Coenzima Q10

Fonte: Delgado, 2019.
A CoQ10 tem se tornado um suplemento amplamente utilizado, devido à sua eficácia na prevenção de doenças, incluindo doenças cardiovasculares, neuromusculares degenerativas, câncer e diabetes (SILVA et al., 2021). No entanto, a produção de suplementos de CoQ10 encapsulados frequentemente segue padrões menos rigorosos, permitindo que esses produtos entrem no mercado sem o mesmo controle estrito exigido para medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No Brasil, a coenzima Q10 é registrada junto ao Ministério da Saúde como suplemento alimentar e deve atender aos requisitos sanitários especificados na RDC nº 243, de 26 de julho de 2018, os quais estão em concordância com as exigências de identidade, pureza e composição, além dos limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar descritos na Instrução Normativa nº 28, de 26 de julho de 2018 (BRASIL, 2018).
A CoQ10 pode ser obtida por duas vias: exógena, pela ingestão de alimentos, e endógena, pelo ciclo do mevalonato (BENTINGER et al., 2010). O consumo de suplementos alimentares como coadjuvantes na busca pela manutenção ou melhora do estado de saúde vem se difundindo exponencialmente. Devido à sua capacidade de atuar como antioxidante, o interesse pela CoQ10 tem aumentado significativamente, apresentando elevada eficácia, visto que está abundantemente distribuída pelo organismo e possui a aptidão de se reduzir ou reativar-se quando necessário.
A CoQ10 tem sido amplamente estudada por seu potencial efeito neuroprotetor em doenças neurodegenerativas. Além de seu papel essencial na cadeia transportadora de elétrons mitocondrial, a CoQ10 atua como um potente antioxidante nas membranas mitocondriais, contribuindo para a redução da geração de espécies reativas de oxigênio (ERO) e prevenindo a morte celular apoptótica. Estudos pré-clínicos demonstraram que a suplementação com CoQ10 promove efeitos neuroprotetores em modelos experimentais de doenças como Parkinson, Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA) e doença de Huntington. Esses efeitos incluem a preservação da integridade mitocondrial, a redução da toxicidade induzida por toxinas mitocondriais, a melhora na função motora e o aumento da sobrevida em modelos animais. Em particular, a combinação de CoQ10 com outros agentes, como a creatina, mostrou-se sinergicamente benéfica, sugerindo a viabilidade de abordagens terapêuticas combinadas. Esses achados reforçam a importância da CoQ10 como um agente promissor para intervenções terapêuticas que visem mitigar a disfunção mitocondrial associada a distúrbios neurodegenerativos (CHATURVEDI; BEAL, 2008).
A CoQ10 ainda apresenta forte ação antioxidante, sendo eficaz na neutralização de radicais livres, cuja produção é intensificada em indivíduos submetidos a atividade física intensa. Estudos demonstram que sua suplementação está associada à redução de lesões musculares, retardo da fadiga e melhora do desempenho esportivo, além de contribuir para o aumento da concentração muscular da coenzima. Além dos benefícios voltados ao desempenho físico, a administração oral de CoQ10 tem se mostrado eficaz para elevar os níveis teciduais desse nutriente, o que está relacionado à redução da mortalidade cardiovascular, especialmente em populações idosas e em indivíduos com doenças crônicas como diabetes tipo 2, doenças renais, hepáticas ou cardiovasculares secundárias (MOURA et al., 2023).
A dosagem ideal da coenzima Q10 (CoQ10) pode variar conforme a condição clínica tratada, mas a literatura demonstra que o composto apresenta baixa toxicidade mesmo em doses elevadas, sendo considerado seguro para uso humano em até 1.200 mg/dia, sem efeitos colaterais significativos (HIDAKA et al., 2008). Estudos experimentais em modelos animais mostram que doses a partir de 100 mg já promovem efeitos terapêuticos relevantes, sendo que doses de 200 mg e 400 mg demonstraram melhor desempenho na neuroproteção frente a lesões induzidas por toxinas mitocondriais, com redução significativa, de forma dose-dependente, no volume de lesões estriatais (BEAL et al., 1994).
Vale ressaltar que, no Brasil, a Instrução Normativa nº 28/18, da ANVISA, não estabelece valores máximos ou mínimos de ingestão para a coenzima Q10. Isso indica que, embora seu uso como suplemento alimentar seja permitido, a definição da dosagem fica a critério técnico do profissional prescritor, com base nas evidências científicas disponíveis e nas necessidades individuais do paciente.
Apesar dos diversos benefícios associados à suplementação com coenzima Q10, torna-se essencial que as indústrias responsáveis por sua produção e os órgãos fiscalizadores garantam integralmente a qualidade desses produtos, assegurando o cumprimento rigoroso das Boas Práticas de Fabricação estabelecidas pela Resolução RDC nº 17, de 16 de abril de 2010. Qualquer desvio nos padrões estabelecidos, seja durante a etapa de fabricação, acondicionamento ou comercialização, pode representar riscos significativos à saúde do consumidor (BRASIL, 2010a).
Para muitos consumidores, os suplementos alimentares representam mais do que uma simples complementação nutricional, sendo utilizados como alternativas terapêuticas ou profiláticas para condições específicas de saúde. A realização deste estudo justifica-se pelo crescimento expressivo do comércio eletrônico desses produtos, pela escassez de investigações específicas sobre a qualidade dos suplementos de CoQ10 comercializados online e pela necessidade de intensificação da vigilância sanitária. O objetivo é avaliar a qualidade de cápsulas de CoQ10 adquiridas pela internet, considerando aspectos como composição, dosagem e a precisão das informações nutricionais declaradas nos rótulos, contribuindo para uma análise crítica da consistência e segurança desses produtos.
Ainda que existam regulamentações, como a RDC nº 243/18, que estabelecem critérios para composição e rotulagem de suplementos alimentares, falhas recorrentes nesse setor evidenciam a urgência de uma fiscalização mais eficaz (BRASIL, 2010; BRASIL, 2018). Estudos como o de Silva et al. (2020), ao avaliarem cápsulas de ômega-3 comercializadas no mercado, demonstram a frequência de inconformidades com os parâmetros regulatórios, reforçando a necessidade de controle rigoroso e adequação às normas sanitárias.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Realizou-se uma pesquisa experimental exploratória com amostras de cápsulas duras de CoQ10 comercializadas em plataformas online. A escolha das amostras baseou-se na análise de dados que indicavam um valor mais acessível em comparação com outras marcas, sendo selecionadas duas amostras (A e B). Os critérios de seleção incluíram a popularidade dos produtos, avaliação dos consumidores e disponibilidade de informações sobre a composição. As amostras foram analisadas com base nos seguintes parâmetros: composição, dosagem e qualidade nutricional. Foram adquiridas e mantidas em suas embalagens originais, sob as condições de armazenamento recomendadas pelos fabricantes. As informações foram compiladas e comparadas para identificar inconsistências ou conformidades entre os rótulos e as normativas internacionais.
2.1. DETERMINAÇÃO DE PESO MÉDIO
Para a determinação do peso médio, foram utilizadas individualmente 10 cápsulas de cada marca (A e B), utilizando uma balança analítica. Os valores obtidos foram registrados sequencialmente em uma planilha no software Microsoft Excel® 2019. Em seguida, as cápsulas foram cuidadosamente abertas em sua porção central para a remoção do conteúdo interno. Após esse procedimento, tanto as cápsulas vazias quanto o conteúdo removido foram pesados separadamente, com os dados também devidamente registrados.
Tabela 1 - Dados nutricionais rotulados para a amostra A
Quantidade por porção (2 cápsulas) | %VD(*) | |
Porção | 1g |
|
Coenzima Q10 | 100mg |
|
Ingredientes: Coenzima Q10, Silicato de Magnésio.
Fonte: Rótulo do fabricante.
Tabela 2 - Dados nutricionais rotulados para a amostra B
Quantidade por porção (1 cápsula) | %VD(*) | |
Porção | 100mg |
|
Coenzima Q10 | 100mg |
|
Ingredientes: Coenzima Q10.
Fonte: Rótulo do fabricante.
2.2. ANÁLISE DO RÓTULO
A análise dos rótulos das amostras de CoQ10 foi realizada de acordo com a RDC nº 243/18 e a Instrução Normativa nº 28/18 da ANVISA que inclui os princípios gerais e informações obrigatórias para a rotulagem de suplementos alimentares. Os produtos devem estar corretamente designados como “Suplemento Alimentar”, com as informações legíveis e em destaque, e se contendo as advertências obrigatórias. As instruções de conservação também são avaliadas, assim como a conformidade da rotulagem nutricional com as diretrizes estabelecidas. Além disso, pode ser observado se as alegações feitas nos rótulos são permitidas e se não apresentam informações que possam sugerir finalidades medicinais.
2.3. DETERMINAÇÃO DO TEOR
Para a determinação do teor de Coenzima Q10 nas amostras A e B, utilizou-se um espectrofotômetro para medir a absorbância de todas as soluções. De acordo com as características de solubilidade, o etanol foi selecionado como solvente para a análise de CoQ10. Estudos estimam que a λmax da CoQ10 seja no comprimento de onda de 275nm (ANANDAKUMAR, 2020); porém, devido às limitações na disponibilidade de equipamentos capazes de realizar a leitura nesse espectro, utilizamos o comprimento de onda de 370nm. Em seguida, preparando um gráfico de calibração utilizando a matéria-prima de Coenzima Q10, adquirida especialmente para esse processo de validação. Para a preparação das soluções, foram pesados com precisão 10 mg da matéria-prima e transferidos para um balão volumétrico de 10 ml, dissolvidos em etanol e completados até o volume com etanol, resultando em uma solução com concentração de 1 mg/ml. Da mesma forma, foram preparadas soluções com concentrações de 2 mg/ml, 3 mg/ml e 4 mg/ml para a construção do gráfico de calibração, plotando concentração versus absorbância. A CoQ10 apresentou linearidade na faixa de concentração de 1 a 4 mg/ml.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. PESO MÉDIO
Os resultados obtidos para o teste de peso médio estão descritos na Tabela-3. Os resultados individuais do peso médio obtidos para massas de conteúdos para cada cápsula das amostras (A e B) apresentam variações, principalmente, na amostra B.
Tabela 3 - Valores obtidos no teste de determinação de peso médio
AMOSTRAS | A | B |
Peso Médio(g) | 0,510 | 0,041 |
De acordo com a informação nutricional da amostra B, esta deveria conter 100 mg por cápsula para atingir a quantidade adequada por porção, conforme descrito na Tabela 2. Já a amostra A possui 510 mg por cápsula, totalizando 1020 mg por porção, valor semelhante ao apresentado na Tabela 1. Essa variação nos permite inferir que há uma falta de eficácia no controle dos processos produtivos da indústria fabricante de acordo com as Boas Práticas de Fabricação referidas na RDC nº 658, de 30 de março de 2022 (BRASIL, 2022), resultando em um produto de baixa efetividade terapêutica e também evidencia um risco em relação a segurança do consumidor.
3.2. DETERMINAÇÃO DO TEOR
Um método espectrofotométrico UV simples, preciso, exato e rápido foi utilizado para a estimativa de CoQ10 em formulação de cápsulas. O método foi validado com relação à linearidade, LOD (Limite de Detecção), LOQ (Limite de Quantificação). Os parâmetros de limite de detecção (LOD) e limite de quantificação (LOQ) foram calculados usando as seguintes equações: LOD = 3,3 (σ/a) e LOQ = 10 (σ/a), onde σ é o desvio padrão da interseção y da curva de calibração e ‘a’ é a inclinação da equação de regressão.
A partir dos parâmetros obtidos, uma quantificação da matéria-prima foi realizada e a quantidade foi calculada. O valor percentual médio de CoQ10 encontrado foi de 100,4%. A quantidade obtida por este método foi próxima de 100%. Portanto, este método pode ser aplicado para a análise da formulação.
Tabela 4 - Resultados da Análise da Formulação de Cápsulas
Amostras | Quantidade Rotulada(mg/Porção) | Quantidade Encontrada(mg/Porção) |
A | 100 | 38,9 |
B | 100 | 75,4 |
Após a análise da formulação, foi identificada uma variação significativa no teor de CoQ10 das amostras, principalmente no caso da amostra A, que apresentou um teor significativamente menor do que o informado no rótulo. A amostra B também apresentou uma variação, embora em menor grau, entretanto, devido à dosagem de cada cápsula dessa amostra ser inferior à metade da rotulada, ela contém uma menor quantidade de CoQ10 do que a amostra A. Essa variação pode ser atribuída a diversos fatores, como problemas na formulação, armazenamento inadequado ou possíveis interferências na fabricação.
Essa discrepância nos teores de CoQ10 é especialmente relevante quando se considera que a eficácia da suplementação está diretamente relacionada à dose ingerida e à sua absorção. Estudos demonstraram que uma dose de 30 mg de CoQ10 exerce efeitos negligenciáveis sobre os níveis plasmáticos (BEAL & SHULTS, 2003), enquanto doses superiores a 2.400 mg não promovem aumentos significativos nas concentrações plasmáticas além de um platô (SHULTS et al., 2004). Além disso, embora doses mais elevadas possam aumentar os níveis plasmáticos, a eficiência da absorção diminui com o aumento da dosagem, o que limita a quantidade absorvida em uma única administração. Essa limitação na absorção apoia o estabelecimento de uma faixa de dosagem ideal entre 90 e 200 mg/dia em indivíduos saudáveis (BHAGAVAN & CHOPRA, 2007). Portanto, variações no teor real de CoQ10 nas cápsulas podem comprometer a eficácia do produto, especialmente quando a dosagem efetivamente ingerida se encontra abaixo da faixa considerada ideal.
3.3. ANÁLISE DO RÓTULO
Em comparação com a ingestão sugerida pelo fabricante de uma cápsula diária para a amostra B, para um total de 100mg de CoQ10, o valor real ingerido seria de apenas 41mg de CoQ10, sendo necessário, então, a ingestão de mais de 2 cápsulas para alcançar a dosagem indicada. Portanto, a marca avaliada se encontra irregular com as especificações impostas pela RDC nº 243, de 26 de julho de 2018 (BRASIL, 2018) que define como obrigatório a rotulagem da composição dos produtos. Em relação à ingestão diária sugerida pelo fabricante, à quantidade de CoQ10 da amostra B, será inferior à quantidade necessária para suposta obtenção dos efeitos desejados. Da mesma forma, a amostra A também apresentou inconformidade quanto ao conteúdo de CoQ10. Apesar de o rótulo indicar 510 mg por cápsula, a análise revelou que a quantidade real por porção é de apenas 38,9 mg, o que representa uma discrepância significativa em relação ao valor declarado. Tal irregularidade na composição declarada frente ao valor nutricional real, evidencia falhas de padronização e exigências sanitárias recomendadas pelas RDC nº 243, de 26 de julho de 2018 e RDC nº 658, de 30 de março de 2022 (BRASIL, 2022; BRASIL, 2018).
A variabilidade observada nas quantidades de CoQ10 encontradas nas amostras, reforça a necessidade de cautela na compra de produtos farmacêuticos pela internet. Sem uma regulamentação adequada ou fiscalização rigorosa, produtos adquiridos online podem apresentar variações significativas em relação ao teor rotulado, o que pode comprometer sua eficácia terapêutica.
4. CONCLUSÃO
Este estudo evidenciou que os suplementos de CoQ10 adquiridos por meio de plataformas digitais apresentam variações significativas quanto à composição, dosagem e fidelidade das informações nutricionais declaradas. As análises revelaram não apenas discrepâncias entre os teores rotulados e os valores reais do princípio ativo, mas também falhas na rotulagem, incluindo a ausência de dados obrigatórios e a imprecisão nas orientações ao consumidor. Tais irregularidades comprometem a eficácia terapêutica e a segurança do uso desses suplementos, demonstrando falhas preocupantes nos processos de controle de qualidade e conformidade regulatória. Nesse contexto, torna-se imperativa a adoção de regulamentações mais rigorosas, acompanhadas de fiscalização ativa e contínua por parte dos órgãos competentes, a fim de garantir a confiabilidade dos produtos disponíveis no mercado online.
Adicionalmente, destaca-se o papel estratégico dos nutricionistas e farmacêuticos no processo de orientação quanto à escolha e ao uso adequado de suplementos alimentares. Considerando a limitada capacidade técnica da maioria dos consumidores para interpretar rótulos e compreender diferenças entre formulações, a atuação desses profissionais deve ser assertiva e educativa, promovendo uma prescrição segura, eficaz e personalizada. Ao oferecer suporte qualificado, esses profissionais colaboram para o uso racional dos suplementos de CoQ10, contribuindo para a proteção da saúde pública e para o fortalecimento da relação entre ciência, consumo consciente e bem-estar.
5. REFERÊNCIAS
ANANDAKUMAR, K. et al. Validated UV spectroscopic method for the quantitative determination of ubidecarenone. Research Journal of Pharmacy and Technology, v. 13, n. 5, p. 2233-2237, 2020. DOI: https://doi.org/10.5958/0974-360X.2020.00401.1.
BHAGAVAN, Hemmi N.; CHOPRA, Raj K. Plasma coenzyme Q10 response to oral ingestion of coenzyme Q10 formulations. Mitochondrion, v. 7, p. S78-S88, 2007.
BEAL, M. F. et al. Coenzyme Q10 and nicotinamide block striatal lesions produced by the mitochondrial toxin malonate. Annals of Neurology, v. 36, n. 6, p. 882–888, 1994.
BENTINGER, Magnus; TEKLE, Michael; DALLNER, Gustav. Coenzyme Q – biosynthesis and functions. Biochemical and Biophysical Research Communications, v. 396, n. 1, p. 74-79, 2010.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa nº 28, de 26 de julho de 2018. Estabelece as listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 132, 26 jul. 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 17, de 16 de abril de 2010. Dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. Brasília, DF: ANVISA, 2010.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 243, de 26 de julho de 2018. Dispõe sobre os requisitos sanitários dos suplementos alimentares. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 100, 26 jul. 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira. 5. ed. Brasília, DF: ANVISA, 2010. 546 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 658, de 30 de março de 2022. Dispõe sobre as Diretrizes Gerais de Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. Diário Oficial da União, Poder Executivo, São Paulo, SP, 31 mar. 2022.
CHATURVEDI, Rajnish K.; BEAL, M. Flint. Mitochondrial approaches for neuroprotection. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1147, p. 395–412, 2008. DOI: https://doi.org/10.1196/annals.1427.027.
DELGADO, João Paulo Mendes. Coenzima Q10: da suplementação à terapêutica em insuficiência cardíaca. 2019. Dissertação (Mestrado) – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2019.
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