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Tania Costa

ADOTAR... UM ATO DE AMOR

Atualizado: 19 de jan. de 2021



Quando pensamos nas mães horríveis que abandonam seus lindos filhinhos, como podem fazer isto?


Depois vem a pergunta, com tantas famílias querendo adotar porque ainda tem tantas crianças nos abrigos? Então temos a resposta logo, sem muito pensar, deve ser por causa da burocracia, exigem muitos requisitos para a adoção de uma criança. Sem saber o que exatamente acontece vamos criando um mundo de ideias do que pode levar os abrigos a estarem cheios de menores carentes, não só de bens materiais como, principalmente de afeto, de uma família que os ame e acolha.


Realmente existe uma burocracia, como em tudo no nosso país, mas este não é o fator principal para a lotação de crianças. Todo o dia o conselho tutelar tem uma importante função, a de salvar crianças vítimas, muitas vezes, de seus próprios pais, vítimas de maus tratos, de abuso sexual, de miséria, de drogas, de prostituição infantil, entre outras coisas. Os responsáveis recolhem estas crianças e por determinação de um juiz, se não tem ninguém que as possa amar e proteger ficam nos abrigos aguardando uma família que cumpra o papel que os pais legítimos deveriam ter cumprido mas por motivos adversos não foram capazes.

Segundo pesquisas há no Brasil aproximadamente trinta e quatro mil crianças nos abrigos esperando para serem adotadas, e há mais ou menos trinta e cinco mil pais querendo adotar...porque essa conta não fecha? Se o número de pais é maior do que o de crianças o lógico seria que não tivesse mais crianças aguardando por uma família.


Vejo casais sonhando em ter uma criança em casa, cheios de amor para compartilhar com os pequenos, planejando como irão cuidar, trabalhando para que não vá faltar nada para o filho que irão adotar. Conversam, sonham, idealizam, criam projetos, arrumam o quartinho para o futuro filho que provavelmente sonham a bastante tempo mas que por algum motivo não conseguem ter pelos meios tradicionais. Se inscrevem, entram para a fila de espera ansiosos, felizes, animados com a perspectiva que logo terão uma bela criança preenchendo um espaço que está vazio em seus corações.


Então um belo dia são chamados para visitarem as crianças, quem sabe até já poderão escolher o seu filho, quem sabe será amor à primeira vista, irão olhar para o lindo bebê e pensar que é perfeito, nasceu para ser seu. Mas quando entram a primeira coisa que veem são crianças grandes, vindas de um mundo totalmente diferente do seu, a maioria cheia de traumas, com uma educação precária... não querem um filho que já está com uma mente cheia de uma cultura diferente da sua, pensam nos problemas que podem surgir se levarem uma criança daquelas para casa. E se o pai vir atrás? Pode ser até bandido... e a educação? Provavelmente falam um monte de palavrões., não devem nem saber se comportar à mesa. Além do que, querem um bebê que possam mostrar aos outros como seu filho de verdade. O que os amigos diriam se levassem uma criança grande, cheia de manias para casa? Provavelmente pensariam que estavam loucos.


Talvez não fosse nada disso, talvez só queiram mesmo adotar um bebezinho porque este é o sonho, criar uma criança desde o nascimento, ama-lo e educa-lo à sua maneira.


Tudo muito lógico e compreensível, cada um com suas razões, vamos respeitar cada pensamento. Mas o que dizer daqueles olhinhos que brilham com a expectativa de que podem ser adotados e ter uma chance de ter uma nova vida, de ter amor, de ter uma família de verdade, de viverem uma vida diferente de tudo o que já viveram?


Quantas crianças sonhando com uma família e provavelmente nunca terão, não serão adotados porque passaram da idade almejadas pelos pais. Só querem um lar, uma família para que possam se sentir dignos, qualquer pontinho neste vasto mundão serviria, desde que tivesse uma casa aconchegante, uma mãe amorosa, mais alguns membros talvez na família que os enchessem de cuidado e amor, o que nunca tiveram. Os dias se passam, elas vão crescendo e ficando para trás, perdendo a esperança, logo estarão de maiores e terão que sair, a pergunta é: para onde?


Nos dias de visita, as crianças se arrumam e ficam ansiosas aguardando os possíveis pais, seus olhos brilham com cada adulto que adentra o recinto, sorriem, mostram-se educados e esperam que alguém os queira levar para casa, mas imaginem o tamanho da frustação quando a visita acaba e nada acontece, continuam ali, sem família, sem lar, sem pais para entregarem todo o amor que está escondido no cantinho de seus pequenos e sofridos corações.


Os dias se passam, mais e mais crianças chegando, só os bebês saindo. Todo o dia chegando crianças com as mais diversas histórias de sofrimento, a esperança se esvaindo quanto mais crescem, e acontece algo pior ainda do que não ser adotado, é quando chega alguém que tem tanta vontade de ter um filho que, na falta de um recém-nascido, aceita fazer uma “experiência” e adotar um maior ... leva a criança para casa, fica com ela alguns dias e quando a pobre pensa que conseguiu uma família por um motivo muitas vezes banal, a devolve porque não foi como esperava. Isto é a pior coisa que pode acontecer a um menor abandonado, se sente rejeitado novamente, vê sua esperança se apagando, é pior do que quando foi levado para o abrigo porque nesta ocasião estava sofrendo e queria mesmo que alguém a socorresse, a libertasse daquele tormento que estava vivendo, mas na atual circunstância saíra do abrigo cheia de alegria, de esperança de dias melhores.


Alguns casais sonham e idealizam o filho que querem, descrevem a cor da pele, dos olhos, a idade, o gênero, parece mesmo que procuram um boneco e não alguém para amar de verdade. Dizem que tem que se parecer com eles...será que irão enganar o filho a vida toda, esconder dele que é adotado? Quando o ato de adotar não é somente ter um filho que não conseguiu por meios naturais mas adotar no sentido mais puro da palavra, ou seja, acolher como filho, amar, cuidar, tomar pra si, não vai importar nenhum fator como descrição da fisionomia, o que vai importar realmente é que você vai levar para sua casa alguém que precisa de você e que, se você analisar com carinho também precisa deste alguém.

Pessoas não são peças ornamentais que escolhemos numa loja de acordo com o nosso bolso e com aquilo que nos agrada aos olhos... pessoas, não importa a idade são criações maravilhosas de Deus que podem ter sido quebradas, destruídas mas que podem ser restauradas. E para que haja uma restauração na vida de qualquer ser humano é necessário amor, dedicação, é preciso que façamos ao outro aquilo que gostaríamos que fizessem para nós. Uma criança não pede para nascer e muito menos para ser maltratada, abandonada, excluída da sociedade porque alguém sem caráter, ou que talvez já venha de situações complicadas, não vamos julgar, a tenho largado à própria sorte.


Sejamos diferente, ao entrarmos em um abrigo para visitar ou procurar uma criança para adotar, vamos deixar em casa nosso ego, nossa vaidade, vamos de coração limpo, deixando que Deus nos mostre onde está o nosso filho, quem é ele, vamos ver os sorrisos maravilhosos que nos lançam , os olhares cheios de esperança, não vamos entrar em um local destes já procurando por bebês, eles também tem que ser adotados, mas terão mais chance. Vamos realmente olhar estas crianças com o olhar de pais amorosos.


Quando olharmos para uma criança não devemos ver o que está por trás dela, o passado dela e sim o que está a sua frente, o futuro que a espera. Seja um filho biológico ou adotivo, o que todos precisam é amor. Concordo que pode parecer mais fácil criar, educar uma criança do zero mas muitas vezes acontece o contrário do que parece ser o lógico... pais criam filhos que conceberam, deram a vida e quando adultos se tornam rebeldes, sem caráter, pessoa más, o porque não se sabe... e pais que adotam, raramente, crianças grandes, já na fase da adolescência, que dizem ser a mais difícil e são exemplos de seres humanos, íntegros, honestos, que cuidam dos pais, o porque também não se sabe...se pensássemos que nem tudo na vida tem lógica seríamos seres humanos melhores, julgaríamos menos e amaríamos mais.


No meu novo livro que está próximo de ser lançado, A Fazenda das Borboletas, Nas Asas do Amor, há uma personagem que é órfã, seu nome é Liang, ela passa por este problema, sonha com uma família mas pensa que não vai acontecer porque já está grande, vê os bebês saindo com seus novos pais e ela ficando para trás até que um dia entra no orfanato a mulher mais encantadora que ela já viu e então sua vida toma um novo rumo. Basta um olhar para que as duas se encantem e a partir dali tudo mude, o amor floresce entre as duas e passam a ser verdadeiramente mãe e filha numa época bem mais complicada do que hoje.


Se você tem um sonho de ter um filho e Deus não lhe concedeu este desejo da forma que esperou talvez seja porque o propósito Dele na sua vida não é que você ganhe ou escolha um filho, mas sim que o filho escolha você, talvez se você quiser mesmo uma criança para amar e chamar de filho, ela não saía necessariamente de seu ventre ou não seja um bebê mas sim uma criança já pronta para preencher o vazio que está afetando sua alma. Se você está numa fila de espera para adotar, volte ao abrigo e olhe com mais atenção à sua volta, quem sabe seu filho esteja olhando você com lindos olhos carregados de ternura e você não esteja percebendo. Não pense em levar para casa uma criança como se estivesse levando uma boneca que você vai fazer com ela o que quiser, olhe nos olhos das crianças, enxergue com o coração, feche os olhos para a vaidade e veja quantas possibilidades há a sua volta de você ter o melhor filho que uma mãe ou um pai pode ter.


Pense que quanto mais aquela criança ou adolescente sofreu mais ela precisa de você, não seja egoísta ao ponto de achar que só você merece ser feliz, todas aquelas crianças que estão nos abrigos à espera de um lar merecem uma chance.


E se você decidir levar alguma para casa, não faça experiências, pense bem antes, não a devolva, sempre acabamos colhendo o que plantamos. Semeie amor à essas “crianças grandes”, que parecem não servir para filhos e verá o tamanho da colheita maravilhosa que terá.


Adotar é um ato de amor e amor não tem tamanho, não tem idade, não tem prazo de vencimento, não tem julgamento. Amar é um ato sublime, doe amor e receberá recompensas infinitas, mas doe amor sem esperar pelas recompensas e você verá como virão abundantemente.


Se me perguntar se tenho filhos adotivos, infelizmente direi que não os possuo, não por falta de vontade mas por falta de condições, mas talvez um dia venha a tê-los. Porém faço parte de uma ONG e nela trabalho com muitas crianças, algumas até me chamam de mãe, de certa forma são meus filhos do coração, amo a todos eles verdadeiramente e, juntamente com nossos voluntários, tentamos dar a eles muito amor, respeito e dignidade. Tentamos ensina-los valores básicos para se formarem bons cidadãos, para se tornarem pessoas do bem, para terem um futuro digno. Plantamos neles a sementinha do bem, colhemos os frutos, mas a semente permanece em seus corações para que se espalhe, que vá mais além, que chegue a outras crianças futuramente. Mostramos a elas que podem e devem ser respeitadas, que são pessoas, independente de onde vivam, em que circunstâncias, por vezes bem complicada, elas podem sim ter uma qualidade de vida bem melhor.




Capão da Canoa, 18/01/2021


Tania Costa

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