IMPACT OF CANNABIS ON AUTISM TREATMENT
EDIÇÃO ESPECIAL - ANAIS - 1º CONGRESSO INTERDISCIPLINAR DE CIÊNCIAS EM SAÚDE.
Tema: Atualidades Médicas (Veja a Revista Completa).
Novembro de 2023.
Editora UNISV: n.1, Ano 1, 2023.
Como citar esse artigo:
CASTRO, Marcela Maria Lopes Costa. Impacto da cannabis no tratamento do autismo. ANAIS - 1º CONGRESSO INTERDISCIPLINAR DE CIÊNCIAS EM SAÚDE. Tema: Atualidades Médicas. Editora UNISV; n.1, Ano 1, 2023; p.13-19. ISBN 978-65-85898-16-4 | D.O.I: doi.org/10.59283/ebk-978-65-85898-16-4
Autora:
Marcela Maria Lopes Costa Castro Médica pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Residente em Neurocirurgia no Instituto José Frota (IJF). Atua em urgência e emergência adulta, junto a avaliações neurocirúrgicas em serviço de residência médica.
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RESUMO
Este artigo oferece uma revisão aprofundada da literatura científica que examina o uso da cannabis como possível intervenção terapêutica no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Embora existam evidências encorajadoras que sugerem que a cannabis pode proporcionar benefícios significativos na redução de sintomas associados ao TEA, tais como agitação e distúrbios do sono, é essencial abordar essa abordagem com cautela. As pesquisas revisadas indicam que a eficácia e a segurança da cannabis no tratamento do TEA estão sujeitas a variações consideráveis devido a diferenças nas formulações de cannabis, dosagens administradas e metodologias de estudo. Além disso, questões éticas e regulatórias complexas devem ser enfrentadas, especialmente ao considerar o uso em populações pediátricas. Portanto, apesar do potencial terapêutico promissor, é imperativo que futuras investigações se concentrem em ensaios clínicos rigorosos, com amostras maiores e desenhos de estudo aprimorados, a fim de estabelecer diretrizes claras e baseadas em evidências para o uso da cannabis no tratamento do TEA.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista (TEA); cannabis; autismo.
ABSTRACT
This article provides an in-depth review of the scientific literature examining the use of cannabis as a potential therapeutic intervention in the context of Autism Spectrum Disorder (ASD). While there is encouraging evidence suggesting that cannabis may offer significant benefits in reducing symptoms associated with ASD, such as agitation and sleep disturbances, it is essential to approach this approach with caution. Reviewed research indicates that the effectiveness and safety of cannabis in treating ASD are subject to considerable variations due to differences in cannabis formulations, administered dosages, and study methodologies. Furthermore, complex ethical and regulatory issues must be addressed, especially when considering its use in pediatric populations. Therefore, despite the promising therapeutic potential, it is imperative that future investigations focus on rigorous clinical trials with larger samples and improved study designs to establish clear evidence-based guidelines for the use of cannabis in ASD treatment.
Keywords: Keywords: Autism Spectrum Disorder (ASD); cannabis; autism.
1. INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta inúmeras crianças e adultos em todo o mundo. Caracterizado por desafios significativos na comunicação e interação social, bem como comportamentos e interesses restritos e repetitivos, o TEA apresenta um espectro amplo de manifestações, variando em severidade e sintomas. Atualmente, não existe uma terapia com remissão total e permanente conhecida para os sintomas associados ao espectro autista e as terapias disponíveis focam principalmente na gestão dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida (Silva Junior et al., 2022).
Neste contexto, tem surgido um interesse crescente na potencial utilização da cannabis e seus derivados como uma opção terapêutica para o TEA. Os canabinoides, compostos ativos encontrados na planta Cannabis sativa, têm demonstrado propriedades que podem ser benéficas no tratamento de vários sintomas associados ao autismo, incluindo ansiedade, distúrbios comportamentais e dificuldades do sono (Aran et al., 2021; Agarwal et al., 2019; Bar-Lev Schleider et al., 2019). Este artigo tem como objetivo revisar a literatura científica atual sobre o uso de cannabis no tratamento do autismo, examinando a eficácia, segurança e os desafios enfrentados nesta área emergente de pesquisa (Stolar et al., 2021).
2. METODOLOGIA
Para realizar esta revisão, foi adotada uma abordagem metodológica sistemática para identificar, avaliar e sintetizar as pesquisas existentes sobre o impacto da cannabis no tratamento do autismo. A busca por literatura relevante foi conduzida em várias bases de dados acadêmicas, incluindo PubMed, BMC Psychiatry, Molecular Autism e Scientific Reports. Os critérios de inclusão para os estudos foram: (i) publicações em revistas científicas revisadas por pares; (ii) estudos focados no uso de cannabis ou canabinoides em indivíduos com diagnóstico de TEA; e (iii) trabalhos publicados nos últimos cinco anos, para garantir a atualidade das informações.
A busca inicial gerou um conjunto de artigos, dos quais foram selecionados aqueles que mais diretamente abordavam o tema em questão. Esta seleção foi seguida de uma leitura crítica e análise de cada artigo, com foco particular em estudos clínicos, revisões sistemáticas, estudos de caso e análises de segurança. A qualidade dos estudos foi avaliada com base em critérios como o desenho do estudo, tamanho da amostra, metodologia e robustez das conclusões.
Os dados coletados foram então organizados e sintetizados para oferecer uma visão abrangente do estado atual do conhecimento sobre o uso da cannabis no tratamento do autismo. Esta revisão buscou identificar tendências, padrões e lacunas na pesquisa existente, bem como discutir as implicações práticas e as direções futuras para estudos neste campo.
3. RESULTADOS
A análise da literatura atual sobre o impacto da cannabis no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) revela uma série de achados relevantes e insights importantes. A eficácia da cannabis medicinal no tratamento de sintomas comórbidos em crianças com autismo foi ênfase importante em um estudo conduzido por Lihi Bar-Lev Schleider e colaboradores (2019) em "Scientific Reports". O estudo analisou a segurança e a eficácia da cannabis e observou melhorias notáveis em aspectos comportamentais, incluindo redução de agitação, irritabilidade, e problemas de sono. Sintomas os quais, quando não bem manejados, colaboram para maior exclusão social, sofrimento psíquico e dificultam evolução em terapias externas, como terapia ocupacional e fonoterapia.
As melhorias no comportamento, incluindo menor índice de agressividade, exclusão social, seletividade alimentar, dentre outros abordados, tem forte impacto na qualidade de vida no individuo que está no espectro autista. Esses benefícios foram trazidos como promissoras evidências na pesquisa realizada por Adi Aran e equipe (2021), publicada em "Molecular Autism", por meio de um ensaio clínico randomizado que explorou de forma especifica o uso de canabinoides no tratamento do autismo.
O perfil de segurança do uso de óleo de cannabis é alvo de muitas discussões técnico cientificas, tendo tido observações quanto a sua estabilidade em vários parâmetros bioquímicos e clínicos no estudo conduzido por Orit Stolar e colaboradores (2021), publicado em "Frontiers in Pharmacology". Neste estudo foi realizada uma análise interina da segurança bioquímica do tratamento com óleo rico em CBD em crianças e adolescentes com TEA, buscando consolidar a substância como passível de seguro uso medicinal.
De toda forma, a necessidade de mais pesquisas rigorosas quanto ao uso de canabidiol é uma solicitação constante do profissional médico prescritor à indústria farmacêutica, dada a limitação atual de evidências de alta qualidade no isolamento da substância e os potenciais efeitos terapêuticos dos canabinoides em certos sintomas do autismo. Como trazido pela revisão sistemática por Estácio Amaro da Silva Junior et al. (2022), em "Trends Psychiatry Psychother".
A necessidade em abordar as lacunas significativas no conhecimento e a importância de estudos adicionais para entender melhor os riscos e benefícios do uso de cannabis em indivíduos com autismo é imperativa em um cenário de atual mercantilização da substância com fins terapêuticos, como exposto por Rumi Agarwal, Shanna L. Burke, e Marlaina Maddux (2019), em um artigo publicado em "BMC Psychiatry".
Esses estudos representam uma fração significativa da pesquisa atual sobre o uso de cannabis no tratamento do TEA e ilustram uma paisagem complexa de achados. Enquanto alguns estudos relatam melhorias em sintomas específicos associados ao autismo, as limitações metodológicas e a variabilidade nos resultados sublinham a necessidade de cautela e investigação mais aprofundada. A variabilidade nas formulações de cannabis, dosagens e perfis de pacientes também sugere que as respostas ao tratamento podem ser altamente individuais, necessitando de uma abordagem personalizada.
4. DISCUSSÃO
A discussão em torno do uso de cannabis no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é complexa, envolvendo diversas facetas do impacto potencial desta abordagem terapêutica. A análise da literatura atual revela tanto promessas quanto desafios associados ao uso de canabinoides no tratamento do autismo.
Um aspecto crucial emergente dos estudos é a eficácia potencial da cannabis no alívio de sintomas comórbidos associados ao TEA, como agitação, irritabilidade e problemas de sono. O estudo de Bar-Lev Schleider et al. (2019), em "Scientific Reports", é particularmente relevante neste contexto, demonstrando melhorias nos sintomas comportamentais em crianças tratadas com cannabis medicinal. Estes achados estão alinhados com a necessidade crescente de abordagens terapêuticas eficazes para os desafios comportamentais frequentemente enfrentados por indivíduos com TEA.
Por mais que estudos como o ensaio clínico realizado por Aran et al. (2021), destacam os benefícios potenciais dos canabinoides, é importante notar as limitações destes estudos, incluindo tamanhos de amostra muitas vezes pequenos, falta de grupos de controle em alguns casos e variabilidade nas formulações e dosagens de cannabis utilizadas. Essas limitações apontam para a necessidade de uma investigação mais robusta e controlada para estabelecer conclusões mais definitivas sobre a eficácia dos canabinoides no tratamento do TEA.
A importância de mais pesquisas rigorosas e diretrizes claras para o uso de cannabis no tratamento do TEA é tema também de trabalhos como a revisão sistemática de Silva Junior et al. (2022). Neste estudo, fica claro como a variabilidade nos resultados e nas metodologias dos estudos existentes sublinha a importância de abordagens padronizadas e replicáveis em pesquisas futuras.
Dessa forma, segurança é uma preocupação primordial no tratamento de crianças e adolescentes com TEA. E estudos como o de Stolar et al. (2021) contribuem para este debate, apresentando uma análise de segurança bioquímica de um tratamento com óleo rico em CBD. Os resultados sugerem um perfil de segurança positivo, mas, como com qualquer intervenção médica, especialmente em populações pediátricas, a segurança a longo prazo permanece uma área de investigação crucial.
Além das considerações científicas, há também questões éticas e práticas significativas associadas ao uso de cannabis em crianças com TEA. Os médicos e os cuidadores devem equilibrar cuidadosamente os benefícios potenciais com os riscos desconhecidos, especialmente dada a falta de consenso na comunidade médica sobre esta abordagem de tratamento (Agarwal et al., 2019). Além disso, a variabilidade nas leis e regulamentos relacionados à cannabis em diferentes regiões e países adiciona outra camada de complexidade ao acesso e ao uso de tratamentos à base de cannabis em um contexto mundial.
Embora existam indícios promissores dos benefícios da cannabis no tratamento de certos aspectos do TEA, é imperativo que futuros estudos abordem as lacunas atuais no conhecimento (Silva Junior et al., 2022). Pesquisas futuras devem se concentrar em ensaios clínicos randomizados, com amostras maiores e desenhos de estudo robustos, para avaliar a eficácia e segurança a longo prazo do uso de cannabis em indivíduos com TEA (Aran et al., 2021).
Em resumo, esta discussão destaca um campo emergente e dinâmico de pesquisa com potencial significativo para influenciar a abordagem terapêutica para o TEA. As evidências atuais sugerem que a cannabis pode oferecer benefícios para alguns indivíduos com autismo, mas é crucial que as futuras pesquisas sejam guiadas por rigor científico, considerações éticas e uma abordagem centrada no paciente (Bar-Lev Schleider et al., 2019; Stolar et al., 2021).
5. CONCLUSÃO
A revisão da literatura atual sobre o uso de cannabis no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) proporciona insights valiosos e destaca áreas críticas para futuras investigações. Através dos estudos revisados, emergem evidências promissoras de que a cannabis pode desempenhar um papel no alívio de sintomas comórbidos em indivíduos com TEA, como agitação, irritabilidade e problemas de sono. Contudo, apesar dos resultados encorajadores, a pesquisa nesta área ainda está em seus estágios iniciais, e existem várias limitações e desafios a serem superados.
Os estudos realizados até o momento, incluindo ensaios clínicos randomizados e análises de segurança bioquímica, indicam um potencial terapêutico significativo da cannabis no tratamento de certos aspectos do autismo. No entanto, esses estudos também revelam a necessidade de uma abordagem mais rigorosa e padronizada na pesquisa. As variações nas formulações de cannabis, nas dosagens administradas, nos métodos de estudo e nas populações de pacientes tornam difícil tirar conclusões definitivas e aplicáveis de forma ampla.
A segurança é uma preocupação primordial, especialmente no tratamento de crianças e adolescentes. Os resultados atuais são em grande parte tranquilizadores, sugerindo um perfil de segurança positivo para o uso de óleo rico em CBD. No entanto, a segurança a longo prazo e os possíveis efeitos colaterais ainda precisam ser avaliados de forma mais abrangente. Além disso, é importante considerar os desafios éticos e regulatórios associados ao uso de cannabis, particularmente em populações pediátricas em um contexto global.
Dada a complexidade do TEA e a natureza multifacetada dos potenciais efeitos terapêuticos da cannabis, é fundamental que as futuras pesquisas se concentrem em entender melhor os mecanismos subjacentes pelos quais a cannabis afeta os sintomas do autismo. Ensaios clínicos mais robustos, com amostras maiores e metodologias aprimoradas, são essenciais para avançar nosso entendimento e fornecer diretrizes claras e baseadas em evidências para o uso de cannabis no tratamento do TEA.
Em conclusão, esta revisão destaca um campo emergente de pesquisa com implicações significativas para o tratamento do autismo. Enquanto os resultados iniciais são promissores, eles devem ser interpretados com cautela. A comunidade científica, juntamente com profissionais de saúde, pacientes e cuidadores, deve continuar a buscar um entendimento mais profundo e detalhado dos potenciais benefícios e riscos do uso de cannabis no tratamento do TEA. Somente através de pesquisas rigorosas e colaborativas poderemos desvendar plenamente o potencial terapêutico da cannabis para indivíduos com autismo.
6. REFERÊNCIAS
AGARWAL, Rumi; BURKE, Shanna L.; MADDUX, Marlaina. Current state of evidence of cannabis utilization for treatment of autism spectrum disorders. BMC Psychiatry, 2019. Disponível em: https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12888-019-2233-5.
ARAN, Adi et al. Cannabinoid treatment for autism: a proof-of-concept randomized trial. Molecular Autism, 2021. Disponível em: https://molecularautism.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13229-020-00385-y
BAR-LEV SCHLEIDER, Lihi et al. Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy. Scientific Reports, 2019. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-018-37570-y.
SILVA JUNIOR, Estácio Amaro da et al. Cannabis and cannabinoid use in autism spectrum disorder: a systematic review. Trends Psychiatry Psychother, 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34043900/.
STOLAR, Orit et al. Medical cannabis for the treatment of comorbid symptoms in children with autism spectrum disorder: An interim analysis of biochemical safety. Frontiers in Pharmacology, Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fphar.2021.632677/full.
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Como citar esse artigo:
CASTRO, Marcela Maria Lopes Costa. Impacto da cannabis no tratamento do autismo. ANAIS - 1º CONGRESSO INTERDISCIPLINAR DE CIÊNCIAS EM SAÚDE. Tema: Atualidades Médicas. Editora UNISV; n.1, Ano 1, 2023; p.13-19. ISBN 978-65-85898-16-4 | D.O.I: doi.org/10.59283/ebk-978-65-85898-16-4
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